Para comer pelas beiradas
Gelato Fruto di bosco, meu preferido aqui! Siena |
Florença é igual sopa quente. Tem que começar a comer pelas beiradas senão queima a língua. E assim o faço. Passo pela estação de Florença e logo pego o trem para Ligúria e lá passo 10 dias na costa das 5 Terre. Muitas voltas e quando estou perto de ir para Florença, de novo, passo pela estação e pego o ônibus para Siena. Até então o que conhecia de Florença era a estação ferroviária e rodoviária.
Siena um lugar mágico. E muito bem preparado para o turismo. Tenho dias lúdicos nessa cidade murada no alto de um morro, no meio da Região de Chianti. Para o dia seguinte agendo um tour de degustação de vinhos, com direito a parada em vilas com castelos. Na primeira vinícola tenho um brinde a parte, pois está tendo uma exposição de um ceramista da toscana. Fico encantada com as peças e não sei se presto atenção no vinho ao nas obras de arte. De qualquer forma o lugar ficou ainda mais lindo, com os tonéis de carvalho enormes de vinho meio a esculturas de cerâmica.
Um casal que eu tinha conhecido no “boteco” no dia anterior estava no tour e foi gostoso encontrá-los lá. Americanos. São sempre os americanos que puxam conversa, chamam para jantar. Nesse dia estava um calor, então no fim de tarde acho um boteco aonde peço um chop e vou para sacada que tem vista para a linda praça. Aonde acontece o Palio de Siena. Ela pede para eu tirar foto e começamos a conversar. Boa desculpa para interagir. Logo depois ela me convida para jantar com eles. Aceito.
E descobrimos que estávamos com a mesma dica de restaurante, dos nossos guias, que foi uma delícia. Pici, massa caseira, ao molho de carne de pato. Outra coincidência que no dia seguinte iríamos para o mesmo tour. Assim tinha amigos para um dia todo!

Voltando. Deixo Siena com gosto de quero mais. Mas vou para Florença, pois já tinha marcado com a Padrya, prima do Rodrigo, meu primo, aonde ficaria hospedada por 10 dias.
Passo pela estação Santa Maria Novela novamente e sem ver a cidade pego um taxi para casa dela. Na beirada de Florença. Almoçamos em casa. Isso era quinta feira e acabo tendo um final de semana super caseiro com direito a arroz, feijão e farofa. Que é o que precisava. Uns dias de casa para descansar do turismo. Então pauso na beirada de Florença. Sinto que preciso me preparar para conhecê-la. A tão falada Florença. Então aproveito a pausa para me informar sobre a história e os pontos principais.
Esse é o retrato do turista: parado em pé, cabeça pra cima, olhando. Vi uma curiosa representação na vitrine de uma loja. Vários bonequinhos de cerâmica, cada um de uma cor, em fila, todos olhando pra cima. Título: Turistas. Quis tirar uma foto, mas como outro dia tomei uma bronca por fotografar obras de cerâmica. Não ouso dessa vez. Mas quando passar por lá de novo vou tentar só para sanar a curiosidade de vocês. O artista foi muito perspicaz.
Também é hora de aperitivo. Já lhes falei o que é aperitivo aqui na Itália? É assim, entre 18h e 20h em alguns bares você pede a bebida e come petiscos à vontade. Nesse lugar eles traziam pequenas porções na mesa. Em outros, você serve do Buffet. Agora já conheço vários. Os mais granfinos a bebida é mais cara, mas em compensação a comida tem qualidade, dispensa o jantar. Se quiser beber mais que comer vá para os mais populares.
Padrya diz que eu não pareço estrangeira, então não chamo a atenção. Senão as pessoas viriam falar comigo. Vou com ela na escola de sua filha, Nayla e ninguém desconfia que não seja da terra.
Florença vai aquecendo dia a dia. A sopa quente ao invés de esfriar esquenta. Depois de uns dias passeando “no meio do prato”. Estou derretendo.
Então vou para uma outra aula de culinária, fora da cidade, em uma Vila. Vila aqui é uma propriedade, como um casarão, uma fazenda. Essa era Vila Pandolfini. Uma construção que servia de fortaleza para vigiar a entrada do rio para a cidade, do século XIII. A cozinha um espetáculo. Nesse grupo éramos 15 pessoas. E foi outro dia encantador meio a panelas, massa fresca, azeite de oliva e vinho. Tudo feito naquela propriedade. Fabrica até bicicleta. Arrisquei-me a tentar programar o tour que fazem de bicicleta lá, pelas cidades da Toscana. Mas achei muito profissional, horas pedalando morro a cima e abaixo. O grupo vai passar 7 dias montados na bicicleta. Eu poderia acompanhar 1 dia, Mas vejo o percurso e acho que vou ser uma mala sem alça pra eles. Então fico apenas com a culinária que vou repetir dias depois.
Nesta aula fiz massa fresca de novo. O primeiro prato aqui é sempre “pasta”. Fizemos um ravióli de espinafre com ricota ao molho de manteiga com sálvia. Hummm! A ricota aqui não se compara com a nossa, parece um creme, suave, macia. Estou ficando craque em massa. Separa a máquina de macarrão aí vó!!! Vou precisar quando voltar. E aproveita e veja a foto que tirei pra senhora. Coloquei um bilhete ao lado: “Para vovó Sônia”. Essa é minha homenagem pra você vó. Claro que sua neta derretida quase chora quando estava pousando para a foto. Sua neta fazendo massa, coisa que você era craque, aqui na sua terra, toscana. Nossa terra! De vez enquando perguntam: “Mas você tem origem italiana?” E não é por causa do nariz. Digo toda prosa: “Sim de Lucca! Giovanini!” E o comentário é unânime. Giovanini é um nome muito toscano.
"a cara da riqueza! diz a Padrya." |
Um choque, pegaria o trem em poucas horas. Aquele baque inicial. Uma tristeza. Deu até vontade de chorar. É impressionante o que o nosso cérebro faz com a gente. Por um momento tenho um sentimento exagerado em relação a esse ocorrido. Tudo bem que era das atividades por aqui o que eu mais queria. Foi como tirar um pirulito aqui da boca da criança. Mas aquela tristeza. Desproporcional.
Acho que agora tenho um “observador interno” mais acordado, meu grilo falante, e fico ali parada em casa, com um diálogo com ele, comigo mesma: “Lydia foi só o curso. Você ainda pode ir para festa. A vida é assim imprevisível. Condição inerente a estar viva. Não sabemos o que vai acontecer de ruim ou de bom.” Os pensamentos parecem ter vontade própria. Tentando acalentar o meu coração.
Mas é que essas frutraçõeszinhas diárias detonam o arquivo de frustrações da vida. Principalmente as não resolvidas ou recentes. E o diálogo continua sem que eu controle: “Lydia você está na Toscana!” As vezes isso parece um sino que me desperta. Os pensamentos continuam no trem a caminho de Montelupo. Quando eu consigo separar o acontecimento do dia do pacote empoeirado.
E aqui estou eu em Montelupo Fiorentido, a cidade da cerâmica, meio a “Festa della Cerâmica”. A festa só acontece depois das 19h porque aqui é “píu Caldo”, quente demais para alguém sair no meio do dia. A população fica entocada durante o dia e saí quando o sol refresca.
Ontem fui correr em um lindo parque a beira do rio e de um hospício, uma construção enorme e antiga. Depois jantei o meu preferido, massa com molho ao fungui trufado. E fiquei horas vendo a demonstração nos estandes, no meio da rua, dos ceramistas. Bati papo com eles e tudo.
Ando com ela cumprimentando a cidade toda. E ela diz: “cidade pequena é assim a gente anda dizendo Ciau (Tchau, que é o Oi deles) para cada um que passa”. Descemos a rua e o moço a padaria oferece “fritura de pasta” que acaba de sair. Comemos. Ele está montando a mesa fora da loja para a festa. Tudo está para fora das lojas durante a noite na festa. E vamos à casa de uns amigos dela pegar a bicicleta que ela vai me emprestar para eu poder visitar cidades vizinhas como Vinci, de Leonardo, nos próximos dias.
Mas hoje aproveito o repouso na minha nova morada dessa semana. No fim do dia vou visitar uma fábrica de cerâmica, tem grupos organizados para o evento. E estou perto de Signa, cidade do último curso de culinária, então nos próximos dias devo repetir a dose.
Ainda comerei um pouco mais pelas beiradas para depois voltar pra o meio do prato quando a sopa vai estar, com certeza, ainda mais quente, nos primeiros dias do verão.
Deixo um abraço com gosto das coisas simples e prazerosas da vida.
Lydia querida,estou"na estrada"com voce,te seguindo.Quem sabe nao seràs uma aventureira do mundo? E.....contadora de històrias?beijo padrya
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