Monday, May 2, 2011

Entre Banhos e Balões

Tenho que contar essa história começando pelas espumas...

Já na saída de Brasília uma repórter do Correio Brasiliense descreve sua experiência nos Banhos turcos da cidade. Entre seus comentários sempre um “se você gostar ou não terá uma boa história pra contar”.
Acho que ela se referia ao pudor ou falta dele.

Lia essa matéria no dia da viagem, na sauna do Iate enquanto fazia uma drenagem para me preparar para a jornada... (de banhos...)... sincronicidade?!? Vocês não viram nada.

À tarde já vejo um balão sobre a Esplanada. Quando estou na porta do avião olho por aquela janelinha e vejo uns 7 balões acima da paisagem que me despeço. O céu de um laranja incandescente anuncia o que seria o 1º. de 100 dias no velho mundo!

Candangos vocês tem que concordar comigo: é incomum balões sobre nossa capital, não é?! E bem no mesmo dia que saio rumo aos balões da Capadócia isso parece uma linda despedida e anúncio.

Chego na Grande cidade de Istambul... mas essa parte vou contar-lhes fora da ordem pois os Banhos Turcos marcam a experiência de se estar banhada nessa cultura. Chego dia 21 de abril. Dia 23 foi o dia em que minha mãe me colocou no mundo. 34 anos depois eu me coloco no velho mundo.

Sentindo o ar frio e o calor do sol, brindo, com um espumante turco, na cobertura que me permite a exuberante vista do Bósforo, com as mesquitas no alto do morro à direita... a vida que entra de cara NOVA.
Também com o nariz novo! Obrigada mamãe pelo presente de aniversário.

Aliás, vou aproveitar e falar de nariz (segurem aí que já volto ao banho... suspense...).
Fiz essa cirurgia para me curar de “uma falta de espaço interna” e acabo ganhando de brinde um nariz novo.
Sempre achei meu nariz grande, com esse osso mais pronunciado do que gostaria. Com o tempo acostumei. E me achava bonita com ele. Mas era um nariz que chamava atenção!  Aí no Brasil não é minha gente. Porque se tivesse vindo com aquele nariz pra cá me sentiria prima das Turcas...
Todo mundo tem um nariz igual aquele meu!

De qualque forma a guia da Capadócia me disse que (mesmo com nariz novo) pareço com uma prima dela (Turca) que ela ama muito. Gosto de parecer com o povo daqui.

Na França pareço com as Francesas, na Turquia lembro uma turca... assim sigo me mimetizando com os povos do mundo.

Também me vi nos quadris delas que sacodem, nos adornos e no gritinho com a língua entre os dente que elas fazem quando dançam...

E sigo essa viagem obcecada por narizes. Acredito que quem já fez plástica sabe como é. Deve ser como quando fica grávida aí só vê grávidas por todos os lados ou compra um carro novo e parece que toda a cidade tem igual. Só uma brincadeira estética... mais uma. Meio a tantas formas... que distinguem ou aproximam os povos.

Depois do brinde na hora que Nasci 10:50 sigo para o bairro antigo aonde seria recebida por matronas para um tratamento completo. 


1483 é o ano do Hamami em Istambul.


O pacote chama-se “Pacha” – com direito a tudo.
Em uma casa de banhos mais velha que nosso Brasilzão. Entro e sou recebida por Turcas velhas e gordas que não falam nenhuma língua que eu conheça. Então só falam com gestos e me conduzem pela cintura. Depois de deixar minha roupa na cabine não preciso fazer mais nada, elas fazem tudo. Estou entregue.

Preparada pela jornalista do Correio, que disse que as mulheres entram nuas só poucas gringas iam de calcinha, lá estou eu nuazinha. Elas dão um tecido vermelho e branco para nos enrolar, mas só por uns segundos. Ao entrar na sala de mármore ela tira e me deixa como vim ao mundo – nada mais apropriado para o dia do meu nascimento.

No meio uma pedra quente, me deito. No teto, aquela abobada toda furada, com um vidro de cada cor, por onde passa a luz. Um feixe amarelo pega na minha mão esquerda sinto-me em uma câmera de energização. Nua e iluminada, ali estou, confortável. Estranhamente confortável, confesso que costumada ter mais pudores... talvez já sejam as mudanças do próximo ciclo de madurez, ou “despudorez”. As matronas, antes vestidas com túnicas, quando entram na sala de banho, estão com uma calcinha e uma pequena faixa de tecido que mal cobre os fartos seios. Uma delas irá cuidar de mim até o final do processo.

Ao redor várias pias com cuias de bronze. Daí tiram água e jogam no meu corpo, ainda deitado sobre o mármore iluminado. Meu corpo magrinho, depois dos 6 quilos que perdi desde o início do ano, parece bem menor nas mãos daquela mãe do mundo (sinto-me nas mãos de um figura antiga da fertilidade – aqui chamada Ana Tanriça a deusa mãe). E ela me cuida: com uma bucha na mão me escova, de Frente, de Costas, Sentada (F/C/S) ... e me enxágua.... agora vem a espuma... um saco de pano cheio de água com sabão elas enchem de ar e espremem em cima de mim. Meu corpo agora sobre a pedra está repleto de espuma e ela me lava... (F/C/S)... aí me conduz pelo braço para uma das pias, me sento... ela senta em um banquinho atrás de mim e me enxágua... e agora vocês não vão acreditar: lava o meu cabelo! E trança eles entre os dedos grossos, mas gentis como a de uma boa babá.

Nessa hora estava eu sendo cuidada e quatro amigas tinham chagado a pouco (todas de calcinhas e seios de fora! Há, a única, pelo menos naquele dia, liberta era eu mesma...). As meninas faladeiras (como eu com vocês amigas que me lêem agora. Senti falta de vocês lá) me olham e fazem um ok apreciando o ritual que seria delas em seguida.

A cuidadora, de quando em vez olha pra mim sorrindo e diz peruntando: Good?!?
Respondo um sim sem palavras com aquela cara de prazer e plenitude.
E quando tento dizer que era um ótimo presente de aniversário, desisto, pois ela de inglês só sabe falar: good? ou  Turn! (quando tenho que me virar na pedra).

Depois de limpinha por todos os lados ela me leva para uma salinha em cima (parece um quartinho de puteiro antigo (imagino pois nunca estive em um). Deito na caminha então sou untada com óleo (F/C/S). Massagem completa alá matrona, sem muita técnica, apenas uma mãozonha que me esfrega as partes sem pressa.
Acabou! Quero voltar para aquela sala das pedras para me lavar do óleo. Mas ela não deixa. Diz “good!” e mostra que tenho que tirar o óleo apenas com a toalha. Obedeço.

Ao final me beija e abraça.

Essa foi minha festa dos 34 anos de aniversário! Ritual de preparação para a jornada da Heroína (como diz minha mãe em uma ligação no exato momento em que saio do banho)...

Passo o dia batendo perna e comendo e bebendo neste bairro antigo recebendo as lindas palavras dos queridos e queridas que me enviam mensagens e ligações de parabéns lembrando que eu tenho casa. E um lugar querido para voltar.

Istambul é para ser experimentada nos detalhes, nos adornos das mulheres, na grafismo dos monumentos, nas cores das ruas, nas especiarias das carnes... só os vinhos não merecem muita atenção pois não tem detalhes para se apreciar. Esses vão ficar para a entrada na Itália! Que me esperem... os brindes aos montes!

Hoje estou voltando da Capadócia, dia 28 de abril, aonde os balões voltaram a aparecer na minha viagem (depois de Brasília He He He)... que experiência! Não foi a primeira mas essa foi linda e calma.
Acho que a baixa altitude ajudou, além da paisagem das chaminés de fadas da Capadócia com os mais de 50 balões adornando o céu com suas cores e movimentos. O som forte da chama que enche os balões quebra o silencio obsoluto que reina no alto do deserto.

Esse foi o fechamento de uma curta mas intensa visita a essa região intrigante que é o interior da Turquia oriental. Carol, querida irmã, lembrei da você a cada curva do relevo dessa região calcária moldada pelas mãos dos ventos, das chuvas e das neves. Aqui se vê a arte do maior dos artistas o tempo!
E o homem (cristão) se aproveitou dessas montanhas de pedras facilmente cavadas para construir abrigos e cidades inteiras subterrâneas para se protegerem.

Essa mensagem foi escrita no ônibus para Ancara, a capital. Depois da visita a um museu nada para fazer, fiquei deitada no hotel, com internet free. Uma delícia falar com vocês, por email, e por sorte alguns no msn.

Também preciso de descanso açodei hoje as 4:30 para o passeio de balão tendo dormido meia noite depois de um show de danças típicas, lindo! E é por isso que as demais sensações dessa viagem ficam  para outra brecha ou outro trecho de ônibus, trem ou avião.

Fico bem aqui...
Com carinho, Ly

1 comment:

  1. Amiga estou amando receber noticias em seu blog.Realmente parece novela fico curiosa para saber o que vai acontecer no próximo dia.
    bjs

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