Wednesday, June 29, 2011

Ondas na Toscana


Ondas na Toscana

O ser humano não é um universo, mas um mar. E eu uma boa representante desse oceano. Ondas vêm e vão. Às vezes tem maremoto, mas não nessa temporada. O final de 2010 e o início de 2011 tiveram vários abalos sísmicos nas placas externas e internas, de mim mesma. E isso provoca terremotos e tsunamis. Às vezes um tremor na placa externa desencadeia uma seqüência de movimentos internos. Por vezes, algumas destruições. Mas como toda catástrofe natural, está aí para provar que o ser humano tem uma capacidade de sobrevivência inata. É certo que a custo de muitas perdas. E quanto maior a onda maior a devastação. Mas são nesses momentos aonde podemos ver a força criativa e sagrada daquele que sobrevive a catástrofe.
Mas como ia dizendo o tsunami já passou. E ele arrastou muita coisa para o fundo do mar, também revolveu a terra e deixou lugares vazios onde antes se erguiam algumas estruturas. E os lugares vazios geram possibilidades. Espaços... criativos... Espaços... para respirar... hummm...

Mas o que importa é aprender a tolerar.

Tolerar as ondas grandes porque sabemos que contra o mar ninguém pode lutar. Só surfar ao boiar. Porque ele tem sua força e vontade própria. Incontrolável. Mas nosso corpo conta com a capacidade de flutuar, mergulhar, bater o pé no fundo e conseguir voltar para respirar. E esperar que a seqüência de ondas grandes passe para então escolher o melhor momento de sair para descansar na praia.

As ondas estão menores nos últimos meses. Tem sido necessário pouco esforço para estar no mar. Ou talvez tivesse estado mais na praia. Mas ninguém agüenta ficar na praia o tempo todo sem entrar na água. Então deve ser assim que o nosso corpo funciona, muito tempo ao sol, vamos dar um mergulhinho, pular umas ondas. Ou talvez seja uma imagem inversa: o corpo largado na areia achando que o descanso é eterno quando uma onda vem, pois a maré sobe, e molha tudo sem nem esperar. As vezes não dá tempo nem de catar as coisas.

E o que fazer quando a maré sobe? Pode-se xingar, se desesperar, se destemperar... Mas eu tenho aprendido, ou pelo menos exercitado, tolerar. Venha a onda que vier e eu fico ali boiando e esperando a hora que o mar vai acalmar. E o melhor e que quando consigo sair à praia o prazer tem sido também mais gostoso. Talvez porque aprender a tolerar as ondas de sofrimento, faz com tenha mais tolerância para as ondas de prazer.
Um outro desafio é tolerar o marasmo. Esse momento de ócio, ou até tédio, do nada. Aonde o muito não acontece. Há isso sim é o exercício. Porque saber ficar no nada é o grande antídoto da ansiedade. Estou no exercício. E olha que estou podendo estar.

Assim, por alguma razão o prazer não tem sido mais uma euforia, mas uma leve brisa suave sobre os pelos da pele quente. Sutil.

O interessante é observar. Como lhes falei o meu “grilo falante” tem estado atento, mas também não tem o que fazer. Não está trabalhando, namorando, sem compromisso nenhum, então sobra toda a atenção dele pra mim mesmo.

Dias atrás quando estava em Montelupo Fiorentino, terra da cerâmica toscana, fui invadida por muitas ondas. Um dia estava montada em uma bicicleta e um mapa na mão. Tinha a intenção de um destino, mas superei todos os meus limites. Fui por um caminho e voltei por outro, passei por várias cidades, subi e desci moro. Pedalei meio a plantação de trigo, de uva, visitei Vinci, a cidade de Leonardo. E lá vi seus inventos. Mas o bom mesmo era estar largada nos pedais. Sozinha. Meu senso de orientação neste dia estava aguçado. Raro! Pouco olhei no mapa e sabia aonde ir. Das 10 da manhã as 5 da tarde minha bunda ficou apoiada naquele banco. Todos que já pedalaram depois muito tempo parado sabem o resultado. Ai! Mas não sentia dor só o prazer do movimento das minhas pernas, do vento no rosto, e dos banhos nas bicas das cidades debaixo de 35 graus do verão na Toscana.

Pensava. Liberdade é:
- Poder escolher viajar.
- Liberdade é deixar de conhecer um ou outro ponto turístico simplesmente porque meu corpo não quer aquilo naquele momento.
- Liberdade é num dia chuvoso, pegar um trem e ir almoçar em Verona.
- Liberdade é gostar muito de um lugar e poder ficar ali até esgotar a vontade.
- Deixar roupas pelo caminho para carregar uma mala mais leve.
- Liberdade é movimentar a barra da saia pelas ruas sem destino.

Liberdade é...
 
Vocês lembram do “Amar é... “?

Então pedalava e pensava isso. E meus pensamentos concluíram: liberdade mesmo é estar montada em uma bicicleta, e, conduzida pela força e pelo movimento do meu corpo me levar para onde eu quiser ir.

Resgatei aqui a sensação dos 15, 16 anos, quando ainda não dirigia. Mas aquela bicicleta me levava para todos os lugares não importava a distancia. 



Visitava minhas amigas, ia tomar sorvete na Shakes,  para aula de teatro no Ceub, para o iate clube e os incontáveis churrascos dessa animada adolescência sob catracas.

Essa foi uma onda gostosa que me invadiu.



No dia seguinte a sensação de liberdade continuou ao pegar um trem para uma cidade vizinha e caminhar uns 15 minutos com indicações para repetir a aula de culinária. Mas liberdade eu pude sentir ao conhecer minha amiga da Arábia saudita. Como diz ela, meia da Arábia Saudita meia do Líbano. Seu êxtase em estar na Itália, viajando sozinha, alugou um carro e foi de Florença par aula de culinária dirigindo, era contagiante. Beber vinho, fumar, dirigir, amarrar uma blusa no meio da barriga eram extremos prazeres libertos para uma mulher que vive em um país aonde a população e mais ainda as mulheres vivem debaixo de leis muito rígidas. Prazeres que para nós faz parte do dia a dia para eles é crime. Vinho é tão proibido como cocaína disse ela.

Identificamos-nos desde os primeiro contato. Fizemos uma farra na aula de culinária. Continuamos as taças de Processo no hotel em que ela estava hospedada meio aos campos. E depois fomos de carro para Montelupo. As gargalhadas nos seguiram. Ela ria das perguntas curiosas que eu fazia e eu das respostas que ela dava. Uma intimidade instantânea de dois mundos femininos tão distintos e tão próximos.
Sua alegria e gozo pela liberdade me contagiaram ou complementaram o que eu tinha sentido no dia anterior.


Contudo, emoções agradáveis e intensas também podem provocar abalos sísmicos. E foi assim que meu grilo interpretou a onda que veio a seguir. Por alguns dias eu fiquei super introspectiva. Em alguns momentos me senti muito só. Em outros uma sensação de estar perdida. Muita saudade de casa e dos amigos que já estavam a distancia por 2 meses. Uma tristeza profunda em outros tantos momentos. Parecia que tinha cansado de viajar, de estar longe. Mas ao mesmo tempo não era tão só isso. Eram novas ondas altas.

E o que fiz? Fiquei boiando.

Boiando. Apesar das sensações desagradáveis e do sofrimento não fugi. Fiquei ainda mais em contato comigo, com meu corpo. E ouvi muito o que ele queria a cada dia. Se queria ficar em casa lendo eu ficava. Se queria dormir durante toda a tarde eu dormia. Se não queria comer fora, pois naqueles dias ser a única sozinha numa mesa de restaurante era uma sensação ruim, eu comprava comida na padaria e comia na salinha do meu delicioso Bed & Breakfast. E assim fui me respeitando. Meio a tudo isso a vontade de movimento também estava presente. Então quando o dia refrescava saia para correr no parque ou na beira do rio.
E foi numa dessas corridas ao por do sol, pra lá das 8 da noite, que tive um prazer intenso, imagens da cirurgia pipocaram em minha mente, no momento em que eu senti uma grande quantidade de ar no meu nariz. Um choro e uma alegria me invadiram. E de repente em contato com a sensação de morte daquela anestesia também estava em contato com a melhor sensação - a de estar viva. Respirando!

E o ar movia por dentro das minhas narinas e eu sentia o seio da minha face. Enquanto minhas pernas corriam muito fortes e rápidas. Lembro da luz do sol e do calor no meu rosto. Sabe é isso. Eu sei viver. Tenho um prazer em estar viva, é o que basta.

O mais como diz Tolle, Vida é isso que permanece, isso que somos. O resto é situação de vida. Se isso está bom, aquilo está ruim. Não é a vida que está boa ou ruim. A vida não muda. O que muda são as situações momentâneas.


Essa leitura me acompanhou na recuperação da cirurgia. Esse exercício de ficar ligada no presente, O Poder do Agora, foi um exercício e tanto meio a tanto desconforto físico, emocional e espiritual daquele momento. Mas fiquei ali. E dizia pra mim mesma: “agora eu quero ver ficar ligada no presente com o nariz tapado de sangue, a cara inchada, dor na cabeça, tontura... sem ficar ansiosa para que tudo passe e que acabe logo. Só posso lhes dizer agora que isso foi algo muito bom de fazer.

Bom também foi conversar com Matheus depois dessas ondas. Fui ainda ressaqueada, para Verona assistir a ópera na arena romana. E durante o aperitivo dividi a vivencia das ondas dos últimos dias. E ele me falou algo muito parecido com isso, que ele tentava achar algo que não mudava, que sempre estava ali, algo que era ele. E que independente de a situação estar boa ou ruim ele se lembrava que tinha aquele ponto. (Matheus se não for dessa forma pode publicar suas palavras nos comentários. Vou adorar.)

Então mais uma seqüência de ondas passou sobre mim durante esses dias. E hoje depois de uma manhã de corrida no parque, sentindo novamente todo o ar dentro de mim, a força das minhas pernas, um banho gelado, sentei debaixo de um ombrelone, na mesa da calçada de um restaurante ao lado do meu hotel, e com o corpo quente e fresco ao mesmo tempo, senti um arrepio por todo o corpo quando o vento que vinha por traz tocou minha pele. É isso aí, a sensação da minha pele com o vento. O vento com a minha pele. Era a mais linda constatação de que eu estou viva. E como as ondas estavam baixas. Eu estava confortavelmente sentada sozinha em um restaurante pedindo o que eu queria comer e beber. E degustei cada pedacinho do que escolhi para comer e cada gota do que escolhi para beber. 

Quando o garçom chegou com a taça de Processo, que tinha pedido, olhei com uma cara de criança quando ganha aquela boneca tão desejada. Abri o sorriso. Ele aparece segurando na mão uma taça grande, morango decorando ao lado e dentro, um charme, um espetinho de frutas vermelhas, blue Berry, framboesa e morango. E assim voltei a estar na praia, sentindo o gosto de fruta por fruta meio aos goles da bebida de grandes comemorações. Ou das simples comemorações...

Como se não bastasse, meus olhinhos reviravam, quando as garfadas de ovos estralados com fatias de Trufas (em letra maiúscula de propósito), fartamente distribuídas no topo, chegavam a minha boca. Óleo de trufa já era um dos meus sabores preferidos. Mas comer as lascas foi realmente o auge do deleite.

Eu e Padrya no dia das mulheres: salão e espumante.
E assim sigo em Florença pela segunda vez, agora hospedada no centro, mas longe o bastante para não estar no burburinho dos turistas de um dia. Aproveito a corrida no parque, a ciesta pela tarde quente, pois minha casa agora está perto de tudo. E depois muito descansada saio novamente a rua depois das 7, quando o sol já acalmou, para arrastar a barra da saia pelas ruas, a caminho de um espetáculo de dança, As 4 estações. E no caminho, na praça, vejo o ensaio de outro espetáculo que terá amanhã de graça no meio da Praça das Senhorias. E volto para “casa” depois de um delicioso jantar comigo mesma inspirada para escrever. Liberdade é... escrever até quase 3 da manhã só porque deu vontade.

Ps: Acabo de pegar o email da minha mãe dizendo que meu pai e a Rachel já embarcaram. Dia 1 de julho farei a recepção deles nessa cidade que agora cabe na palma da minha mão.

Beijo no coração.
Em especial pra os anjos que sintonicamente apareceram nos dias de ondas altas.
Lívia, que depois de sua meditando mandou para o meu celular uma linda foto de um buganvile com uma mensagem oferecendo “toda essa energia pra você minha amiga”.

Moisés que mandou um email falando da oportunidade dessa viagem só para abrir espaço para intuição e outras lindas palavras de apoio.


E minha mãe que mandou uma imagem muito simbólica desse momento com uma linda mensagem. A imagem representa o inverno. Eu estou vivendo o solstício invertido aqui. Mas o momento que a semente se rompe para começam a aparecer as flores, aqui no clima temperado, é na primavera e no verão.
Dri mamãe disse que essa imagem é para complementar a anterior que você me mandou do renascimento. Veja.

E com essa força das estações e das pessoas que me acompanham vou rompendo também a semente e renascendo mais uma vez. Pois nessa vida há que se morrer e que se nascer diversas vezes, para ressurgirmos com mais vigor.
Assinado A Flor.

Flor de Alcachofra: Bed & Breakfast Montelupo


Tuesday, June 21, 2011

Para comer pelas beiradas

Para comer pelas beiradas

Gelato Fruto di bosco, meu preferido aqui! Siena
Florença é igual sopa quente. Tem que começar a comer pelas beiradas senão queima a língua. E assim o faço. Passo pela estação de Florença e logo pego o trem para Ligúria e lá passo 10 dias na costa das 5 Terre. Muitas voltas e quando estou perto de ir para Florença, de novo, passo pela estação e pego o ônibus para Siena. Até então o que conhecia de Florença era a estação ferroviária e rodoviária.




Siena um lugar mágico. E muito bem preparado para o turismo. Tenho dias lúdicos nessa cidade murada no alto de um morro, no meio da Região de Chianti. Para o dia seguinte agendo um tour de degustação de vinhos, com direito a parada em vilas com castelos. Na primeira vinícola tenho um brinde a parte, pois está tendo uma exposição de um ceramista da toscana. Fico encantada com as peças e não sei se presto atenção no vinho ao nas obras de arte. De qualquer forma o lugar ficou ainda mais lindo, com os tonéis de carvalho enormes de vinho meio a esculturas de cerâmica.

Um casal que eu tinha conhecido no “boteco” no dia anterior estava no tour e foi gostoso encontrá-los lá. Americanos. São sempre os americanos que puxam conversa, chamam para jantar. Nesse dia estava um calor, então no fim de tarde acho um boteco aonde peço um chop e vou para sacada que tem vista para a linda praça. Aonde acontece o Palio de Siena. Ela pede para eu tirar foto e começamos a conversar. Boa desculpa para interagir. Logo depois ela me convida para jantar com eles. Aceito.

 E descobrimos que estávamos com a mesma dica de restaurante, dos nossos guias, que foi uma delícia. Pici, massa caseira, ao molho de carne de pato. Outra coincidência que no dia seguinte iríamos para o mesmo tour. Assim tinha amigos para um dia todo!
No segundo dia agendo uma aula de culinária. Estava igual criança excitada com a brincadeira. Era uma turma pequena, eu, uma mulher sozinha do Havaí e um casal, também americanos. Tudo uma delícia. Comendo e bebendo por horas. O azeite extra virgem da região o vinho Chianti Classico, que agora sabia o que era pelas explicações do dia anterior.

Outra atração local é a catedral de Siena. Algo para se fazer antes de morrer. Aliás, adoro aquele guia 1000 coisas para fazer antes de morrer. Já tinha comentado com a Carol, minha irmã, para fazermos o nosso site, 1000 coisas para fazer antes de morrer pelas irmãs Joffily. Porque Carol até então era minha irmã companheira de viagem. Rachel, a outra irmã, inaugurou esse hall no último verão no sul do Brasil e no mês que vem vai ser incluída na “trupe” irmãs viajantes para além dos limites do Brasil. Neste momento, dia 21 de junho, já estou viajando com vontade de encontrá-la dia 1 de julho junto com meu pai, em Florença. E juntos vamos encontrar minha mãe na Grécia dia 8. Nesse momento da viagem já tenho muitos compromisso, datas agendadas (risos). Aguardem o “Grand Final” dessa jornada de 100 dias que se dará nos palcos das ilhas Gregas. Só vai faltar uma atriz importantíssima, parte desse contexto, que está impossibilitada de viajar. Mas vou levá-la no meu coração, Carol.

Voltando. Deixo Siena com gosto de quero mais. Mas vou para Florença, pois já tinha marcado com a Padrya, prima do Rodrigo, meu primo, aonde ficaria hospedada por 10 dias.

Passo pela estação Santa Maria Novela novamente e sem ver a cidade pego um taxi para casa dela. Na beirada de Florença. Almoçamos em casa. Isso era quinta feira e acabo tendo um final de semana super caseiro com direito a arroz, feijão e farofa. Que é o que precisava. Uns dias de casa para descansar do turismo. Então pauso na beirada de Florença. Sinto que preciso me preparar para conhecê-la. A tão falada Florença. Então aproveito a pausa para me informar sobre a história e os pontos principais.

E assim vou experimentado Florença da borda para o centro. Na sexta vou à tarde só respirar a cidade. Não quero ver nenhum ponto turístico a não ser o que passar pela minha vista no meio da rua. Como aconteceu. Estou caminhando vindo da estação, finalmente, ao centro da cidade histórica e dou de cara com o Duomo, a Basília Nossa Senhora de Fiore, grande impacto! O queixo cai. E preciso ficar ali por um tempo, meio a multidão de pessoas, olhando pra cima, tentado apreciar cada detalhe dos entalhes externos daquele monumento.

Esse é o retrato do turista: parado em pé, cabeça pra cima, olhando. Vi uma curiosa representação na vitrine de uma loja. Vários bonequinhos de cerâmica, cada um de uma cor, em fila, todos olhando pra cima. Título: Turistas. Quis tirar uma foto, mas como outro dia tomei uma bronca por fotografar obras de cerâmica. Não ouso dessa vez. Mas quando passar por lá de novo vou tentar só para sanar a curiosidade de vocês. O artista foi muito perspicaz.


Quero um happy hour. É sexta, não é minha gente?! Quer programa melhor? Dia de primavera, quase verão, o sol brilha amarelo no céu azul anil da Toscana, até quase 10 da noite, nada mais propício. Então acho um lugar de aperitivo na praça das Senhorias. Estou em frente ao Palácio Vechio, com a cópia do Davi de Michelangelo à frente. E peço um Beline, que já estou querendo provar a dias. Tudo tem sua hora certa. O drink demora. O garçom diz que o pêssego tinha acabado e que eles tinham ido buscar mais. E quando chega. Esse era o Beline que deveria ser o primeiro da minha vida. Em uma taça daquelas antigas de champanhe, taça baixa, bochuda. Igual a do casamento dos meus pais. Esse Beline era Champanhe batido com pêssego fresco, que está na época. Então delicio esse delicioso o drink feminino primaveril! A tarde está linda e sigo com um processo.

Também é hora de aperitivo. Já lhes falei o que é aperitivo aqui na Itália? É assim, entre 18h e 20h em alguns bares você pede a bebida e come petiscos à vontade. Nesse lugar eles traziam pequenas porções na mesa. Em outros, você serve do Buffet. Agora já conheço vários. Os mais granfinos a bebida é mais cara, mas em compensação a comida tem qualidade, dispensa o jantar. Se quiser beber mais que comer vá para os mais populares.

Estava pensando em jantar depois, quando, batendo perna para fazer hora chego a uma praça miudinha, Santo Ambrósio, lotada de gente bebendo em pé, sentada nas escadas, todas com taças de vidro, a maioria de prosseco ou vinho branco. Uma visão inusitada. Taças de cristal passeando pela praça. Adoro! Então perco as horas e a fome com mais prossecos e petiscos nesse lugar. Pena, que parece um lugar local, e o povo da cidade mesmo interage pouco. Então não encontro nem homem, nem mulher para jogar conversa fora. E olha que eu usei a estratégia do balcão, hein irmã?! Mas adorei de qualquer forma estar “no lugar” de happy hour de Florença.

Padrya diz que eu não pareço estrangeira, então não chamo a atenção. Senão as pessoas viriam falar comigo. Vou com ela na escola de sua filha, Nayla e ninguém desconfia que não seja da terra.
Florença vai aquecendo dia a dia. A sopa quente ao invés de esfriar esquenta. Depois de uns dias passeando “no meio do prato”. Estou derretendo.



Então vou para uma outra aula de culinária, fora da cidade, em uma Vila. Vila aqui é uma propriedade, como um casarão, uma fazenda. Essa era Vila Pandolfini. Uma construção que servia de fortaleza para vigiar a entrada do rio para a cidade, do século XIII. A cozinha um espetáculo. Nesse grupo éramos 15 pessoas. E foi outro dia encantador meio a panelas, massa fresca, azeite de oliva e vinho. Tudo feito naquela propriedade. Fabrica até bicicleta. Arrisquei-me a tentar programar o tour que fazem de bicicleta lá, pelas cidades da Toscana. Mas achei muito profissional, horas pedalando morro a cima e abaixo. O grupo vai passar 7 dias montados na bicicleta. Eu poderia acompanhar 1 dia, Mas vejo o percurso e acho que vou ser uma mala sem alça pra eles. Então fico apenas com a culinária que vou repetir dias depois.


Nesta aula fiz massa fresca de novo. O primeiro prato aqui é sempre “pasta”. Fizemos um ravióli de espinafre com ricota ao molho de manteiga com sálvia. Hummm! A ricota aqui não se compara com a nossa, parece um creme, suave, macia. Estou ficando craque em massa. Separa a máquina de macarrão aí vó!!! Vou precisar quando voltar. E aproveita e veja a foto que tirei pra senhora. Coloquei um bilhete ao lado: “Para vovó Sônia”. Essa é minha homenagem pra você vó. Claro que sua neta derretida quase chora quando estava pousando para a foto. Sua neta fazendo massa, coisa que você era craque, aqui na sua terra, toscana. Nossa terra! De vez enquando perguntam: “Mas você tem origem italiana?” E não é por causa do nariz. Digo toda prosa: “Sim de Lucca! Giovanini!” E o comentário é unânime. Giovanini é um nome muito toscano.
Os últimos dias foram todos pelas beiradas pois Florença está fervendo. A cidade foi feita a beira do rio Arno, mas isso fica em um Vale com pouca ventilação, somado a quantidade de turistas no local faz com que o miolo seja a parte baixa da Divina Comédia.

"a cara da riqueza! diz a Padrya."
Para refrescar, sábado, uma praia às 1h de Florença com vento a mil por hora. Valeu o banho de mar. Domingo em Arrezo. Fomos ver uma festa medieval. Quando chegamos descobrimos que tinha sido no dia anterior. Davide, marido da Padrya ficou super frustrado. Mas fizemos nossa festa em uma mesa no meio da praça com massa e vinho. E depois uma farra na arena romana do século I e II. Interrompido por uma bronca de uma matrona italiana. Fomos descansar do almoço na grama dessas ruínas. Padrya empolgou me fotografando, e fizemos um book. Aproveitamos o espaço para brincando com Nayla, jogamos capoeira com rasteira. Ela adorou. Fizemos estrelinha. Mas quando essa mulher, lá de cima do convento, que agora é um museu, viu que a gente e outras pessoas estavam sentadas, deitas e com as bolsas em cima das pedras ela grita lá de cima em italiano. Qualquer coisa em italiano já parece uma bronca, imagina com motivo. Mas Padrya que é agora uma “italiana nordestina” não deixa por menos. E retruca dizendo que não tinha nenhuma placa e que a mulher devia pedir com educação. Um episódio turístico a parte. Essas discussões dos italianos fazem da comunicação diária e do meu turismo.




Segunda acordo com a alegria de ir para Montelupo Fiorentino para o meu curso de cerâmica. Algo que espero desde que saí do Brasil. E na seqüência com a frustração de receber uma ligação dizendo que o curso tinha sido cancelado por falta de quorum.

Um choque, pegaria o trem em poucas horas. Aquele baque inicial. Uma tristeza. Deu até vontade de chorar. É impressionante o que o nosso cérebro faz com a gente. Por um momento tenho um sentimento exagerado em relação a esse ocorrido. Tudo bem que era das atividades por aqui o que eu mais queria. Foi como tirar um pirulito aqui da boca da criança. Mas aquela tristeza. Desproporcional.

Acho que agora tenho um “observador interno” mais acordado, meu grilo falante, e fico ali parada em casa, com um diálogo com ele, comigo mesma: “Lydia foi só o curso. Você ainda pode ir para festa. A vida é assim imprevisível. Condição inerente a estar viva. Não sabemos o que vai acontecer de ruim ou de bom.” Os pensamentos parecem ter vontade própria. Tentando acalentar o meu coração.

Mas é que essas frutraçõeszinhas diárias detonam o arquivo de frustrações da vida. Principalmente as não resolvidas ou recentes. E o diálogo continua sem que eu controle: “Lydia você está na Toscana!” As vezes isso parece um sino que me desperta. Os pensamentos continuam no trem a caminho de Montelupo. Quando eu consigo separar o acontecimento do dia do pacote empoeirado.

E aqui estou eu em Montelupo Fiorentido, a cidade da cerâmica, meio a “Festa della Cerâmica”. A festa só acontece depois das 19h porque aqui é “píu Caldo”, quente demais para alguém sair no meio do dia. A população fica entocada durante o dia e saí quando o sol refresca.

Chego em um Bed & Breakfast gracinha. Uma apartamento de 2 andares na rua da festa. Embaixo mora Ana, Francesca e Teresa, suas duas filhas. E no andar de cima, no sótão, ela fez a hospedagem, recém reformada. Dois quartos apenas, com uma salinha e uma cozinhazinha aonde serve o café da manhã. Acho lindo e romântico. Estou aqui, no telhado escrevendo pra vocês. Nessa parte de cima os cômodos são triangulares porque pega os dois lados do telhado, com aquelas janelas de vidro que abrem, deixando a luz e ar entrar, mostrando o céu. O meu quarto poderia se meu. Todo branquinho, com detalhes em lilás e verde. Minhas cores preferidas, flores na janela ao lado da cama. Travesseiros, almofadas e edredom fofinho. Até um futón no chão para meditar. Sinto-me super confortável. E a pessoa do outro quarto está a trabalho então chega para dormir e saí cedo. Resultado, tenho um apartamento todo pra mim. Tinha planejado acordar cedo e sair de bicicleta. Que a dona super solícita me emprestou, mas acordo as 10 e meia, fico tomando o meu café, nesse telhado, com sol batendo por horas. Depois venho resolver alguns programas para os próximos dias na Internet e escrever. As horas passam e o dia esquenta. Se sair agora às 3 da tarde serei a única na rua, como ontem, a cidade é fantasma na hora da “ciesta”, tudo fechado.
Desfruto o dia em casa, casa lindinha, para fazer nada. Super necessário meio a tantos dias viajando. E também estou aqui para pausar... Sinto-me muito confortável em estar em uma cidade “picola” sem muito pra fazer, mas com tempo e espaço para as minhas coisa. Correr, ler, pedalar, escrever, meditar, dormir, comer. Simples mas tudo...

Ontem fui correr em um lindo parque a beira do rio e de um hospício, uma construção enorme e antiga. Depois jantei o meu preferido, massa com molho ao fungui trufado. E fiquei horas vendo a demonstração nos estandes, no meio da rua, dos ceramistas. Bati papo com eles e tudo.

Parece que cheguei à casa de uma tia. Ontem quando, no meio do dia quente e vazio, volto pra “casa” encontro Ana, a dona, pergunto sobre curso de culinária aqui, mas ela acha que não tem. Logo me diz que ela adora cozinhar, que fez curso e pães e doces (em outras cidades). Larga a vassoura e me chama para a cozinha, aonde nos sentamos e batemos papo por uma boa hora comendo a torta de ameixa fresca e o pão que ela mesmo fez. Pergunta o que eu quero para o café da manhã do dia seguinte. Muito receptiva. Ela foi por conta própria à escola de cerâmica ver o que tinha acontecido para cancelarem o curso. Ficou toda preocupada comigo. Então se oferece para ir comigo na cidade me mostrar aonde teria as demonstrações e saber das visitas que estão acontecendo durante essa semana.


Ando com ela cumprimentando a cidade toda. E ela diz: “cidade pequena é assim a gente anda dizendo Ciau (Tchau, que é o Oi deles) para cada um que passa”. Descemos a rua e o moço a padaria oferece “fritura de pasta” que acaba de sair. Comemos. Ele está montando a mesa fora da loja para a festa. Tudo está para fora das lojas durante a noite na festa. E vamos à casa de uns amigos dela pegar a bicicleta que ela vai me emprestar para eu poder visitar cidades vizinhas como Vinci, de Leonardo, nos próximos dias.

Mas hoje aproveito o repouso na minha nova morada dessa semana. No fim do dia vou visitar uma fábrica de cerâmica, tem grupos organizados para o evento. E estou perto de Signa, cidade do último curso de culinária, então nos próximos dias devo repetir a dose.

Ainda comerei um pouco mais pelas beiradas para depois voltar pra o meio do prato quando a sopa vai estar, com certeza, ainda mais quente, nos primeiros dias do verão.
Deixo um abraço com gosto das coisas simples e prazerosas da vida.



Paola era o seu nome

Paola era o seu nome


Estava batento papo com uma menina no msn. Uma que quando batizei era um bebe pequenino. E conto pra ela, com alegria, que, quando cheguei ao meu hotel no meio dos vinhedos em Martarello, ao lado de Trento, a moça ao entregar a chave do meu quarto diz: “O seu quarto é o Paola!” E eu: “Como?” E ela confirma: “O nome do seu quarto é Paola.” Fico toda emocionada, não me contenho e conto pra ela que Paola é o nome da minha afilhada. Ela também gosta da coincidência e ri. Então durmo muito confortável em um quarto que deve ter sido mesmo de uma Paola. Pois cada quarto tem um nome, e um deles está escrito mama. Acho que são mesmo os quartos originais da casa que hoje é um hotel. Gostoso estar viajando e poder dormir em uma “casa”. E ainda, lembrar da minha querida e linda afilhada.

E esse texto está em destaque especialmente pra ela, que naquele dia no msn disse: “Dinda coloca no blog!”

Vista do quarto Paola pela manhã.
Lembro dessa minha primeira, agora grande afilhada, em vários momentos da viagem. Primeiro que ela tem um nome pra lá de italiano: Paola Grandino Lourenço. E nessa terra é Lourenço pra cá, Paola pra lá. Um momento muito especial foi na Basílica São Marco em Veneza, aonde comprei uma medalha de São Marco pra ela. Pois naquela época 10 anos atrás, eu e Marco batizamos junto essa menina. Então trago uma medalha com o nome de seu dindo! Podia achar uma Santa Lydia por aqui também, não é Paola? Assim você ficaria com o dindo e a dinda pendurados no peito. Essa é a nossa função, com medalha ou sem medalha. Olhar por você minha querida, te proteger e te cuidar, estando perto ou longe.


Sua mãe me disse antes de aceitar o convide para ser sua madrinha: você sabe que madrinha é para cuidar dela quando eu não puder. E eu disse: Sim!

Amo ser sua madrinha, querida. Saudades. Um beijo da Itália pra você, Paola!

Dinda, Ly.



ps. Paola manda uma foto sua atualizada para eu colocar no blog, por favor.

Sunday, June 12, 2011

Só imagens...

... o texto? Deixo que criem em suas mentes... boa viagem!


São Jorge com a Princesa Basilica de San Zeno Maggiore - Verona
Basilica de San Zeno Maggiore - Verona
Ponte - Verona
Ponte - Verona
Afrescos - Castelo Bonconsiglio - Trento
Primavera no castelo - Trento
Trento vista do alto
Castelo Bonconsiglio - Trento
Caminhada na montanha Trento no caminnho: oliveiras, figueiras, cerejeiras, videiras


Arena de Verona - passeio de um dia vindo de Trento.   
   
Eu me fotografando na Ponte em Verona.



Saturday, June 11, 2011

Renascimento


Renascimento

 “Imerso nas profundezas do seu próprio ser existem tesouros, qualidades e níveis de consciência inexplorados. Esse potencial luminoso adormecido precisa de espaço para desabrochar. É um momento sagrado que essa essência profunda aflora e com ela novas possibilidades. É como se nascêssemos de novo, dessa vez dando a luz a nossa própria alma. Em geral acontece pós período difícil. É nesse momentos que a alma encontra espaço para se manifestar. Todas as dificuldades que você atravessou tiveram a finalidade de te preparar para esse momento. Chegou a sua hora de nascer mais uma vez. Você está vivendo um enorme salto de consciência, sendo conduzida em direção a um estado de paz nunca atingido antes. Neste exato momento existe energias angelicais ao seu redor, facilitando o seu renascimento. Uma nova vida, mais plena, mais verdadeira e mais feliz. Confie e se entregue sem medo. Despeça-se da velha vida, pois lindos milagres estão para acontecer.”

Uma linda anja me mandou essa mensagem. Sinto que tenho muitos anjos que me acompanham nessa vida terrena. Encarnada nas pessoas que estão ao meu redor. Adriana me surpreende com esse presente. Quando estava me recuperando da cirurgia a Dri também esteve lá em casa para cuidar de mim, emocional e espiritualmente. Naquele momento ela abriu uma carta: Coragem. Bem condizente.

E agora no meio da minha aula de culinária em Siena recebo essa linda carta de Tarô via celular, com a linda imagem: Renascimento. Uma mulher ressurgindo das águas cor de rosa.

Estamos bem sincronizadas. Na manhã pensava no que li sobre a Renascença. Um período para recomeços. E cá estou eu no berço do renascentismo. Sem falar que estava com muita vontade de falar com a Adriana mas me dei conta que ainda era madrugada no Brasil. Acho que ela recebeu a ligação “telepática” e respondeu.

Eu gosto muito de abrir cartas de tarô quando estou vivendo um momento importante, difícil ou de transição. Acalenta, ilumina e as vezes mostra caminhos. Pensei em trazer meu tarô para viagem, mas pensei que era mais um peso para carregar. Só não contava que teria uma anja a iluminar meu caminho mandando mensagem para me ajudar a significar essa experiência.
E parece que as palavras do tarô angelical resumem meu momento. Uma paz antes não sentida depois de um período difícil. Tenho me sentido muito calma, em paz. Costumava ser uma pessoa ansiosa, que pensava em muitas coisas ao mesmo tempo, planeja o futuro, como se com isso conseguisse garantir os resultados. Em parte ajuda sonhar e planejar, penso eu. Mas sem colocar muita energia no que está à frente. A energia precisa estar onde estou agora. Esse era o exercício. Agora vivo essa realidade. É assim que estou. Aqui e agora. 

Não estou ansiosa com o que tenho por ver. Estou bem conectada com o que estou sentindo a cada momento. Falando em termos práticos, por exemplo, um dia tinha em mente que visitaria uma museu e uma torre, mas depois do almoço sinto uma moleza. Minha vontade é outra. Mesmo sabendo que é meu último dia e não terei outro para ver esse museu. Respeito, sigo o meu ritmo interno não o mental, meu corpo não quer ver museu naquele momento. Então a vontade momentânea guia meu roteiro. Acho um banco e deito ao lado de uma pantera que solta água pela boca, mantendo o som de água corrente contínuo ao meu lado, lá descanso por horas lendo um livro. Esse foi o turismo, apenas estar lá. E essa é a lema que dita a Renascença, “carpe diem”. E assim sigo aproveitando o dia.

Não foi a primeira vez que sinto que renasci. A outra também depois de um momento difícil. Momentos de ruptura, separações tiram tudo do lugar, revolvem o terreno por isso são férteis. Nesta outra vez depois de estar na presença de Vera Kohn apertando minha barriga e me mandando deixar a vida entrar. E obedeci é claro. Uma velinha, naquela época de seus quase 90 anos, eu no chão, ela em pé inclinada me apertando, tive que obedecer. Deixei a vida entrar. E cheia de vida me rebatizei na cachoeira, mergulhada pelos braços de Jean Yves Leloup e Roberto Crema. Naquele momento escolhi outra madrinha para essa nova vida – Adriana.

Essa é uma carta de amor e gratidão pra você Adriana por sempre me acompanhar e me cuidar. E por ajudar a me prepara para essa jornada, como minha mãe disse, Jornada da Heroína.

Eu e Dri somos colegas de formação e ela me atendendo em uma última sessão antes de eu parti teve uma sacada, pra mim, naquele momento fenomenal. Eu querendo controlar a tudo, com medo, estava fragilizada física e emocionalmente, pela cirurgia no nariz, dizia que precisa estar atenta, pois estaria sozinha e precisa me cuidar, e isso, e aquilo. Como se alguém pudesse estar totalmente prepara para tudo o que a vida trouxer. A ingenuidade. E Adriana falou ok, antes de começar, imagine que está em um carro, uma Mercedes, está bom pra você? Claro. Que cor? Vermelha com dourado. Lá estava eu imaginando dirigindo uma linda Mercedes conversível, toda poderosa. E ela continua, mas você está no banco de traz. Como que adivinhando que eu já me imaginava ao volante. Foi quase um choque, e ela, continua, um motorista maravilhoso te conduz, e você vai atrás. E a partir daí que começamos o trabalho. E eu pude relaxar. E entendi que eu precisava confiar no fluxo da vida e na minha capacidade de me adaptar ao que aparecesse. Que tinha um comandante, que é o tempo, o destino, o vento... que fazem o seu trabalho. E às vezes precisamos nos deixar ser conduzida. E se eu estava me lançando no mundo, no nada, sem muito motivo, precisa confiar que esse movimento era da alma e não da cabeça.


Como a Cris disse, papeando pelo MSN enquanto já estava aqui, “Ly você viu que os balões foram um símbolo perfeito para esse seu momento de se soltar...”
Então sigo me soltando nesse mundo, ouvindo os anjos e quando em vez conversando com eles... vuuuuuuuuuuuuuuu!

Friday, June 3, 2011

Da beira mar para os Alpes


Trento é o meu destino.




Vou encontrar com meu primo, Matheus Joffily, que está trabalhando como pesquisador no Norte da Itália. Ele pesquisa as emoções e seus correspondentes fisiológicos. Bom, temos alguns assuntos em comum. Mais ainda quando no dia seguinte vamos buscar sua namora Belga e descubro que ela é psicóloga.




Quando deixei Riomaggiore, alguns pingos já caíram sobre mim anunciando a virada do tempo. Depois de dias de absoluto sol, chego a Trento debaixo de uma tempestade. Passei o dia no trem. Trens! Porque tive que pegar 4 e demorei 9 horas para chegar aqui. Ainda passando mal, pois acho que o jantar no dia anterior não me fez bem. E com minha mala escada à cima e a baixo. Aliás, para sair do meu quarto de manhã foram 5 andares de escada só para sair do prédio, fora os seguinte para descer até a rua. Eu estava hospedada na altura da torre da igreja. E minha mala não está leve. Já deixei algumas roupas pelo caminho, mas não aliviou muito. Mas pela primeira vez pude contar com ajuda de braços masculinos que se ofereceram para colocar minha mala no guarda malas do trem que é acima da cabeça. Pensem como é difícil.

Fico muito feliz, depois desse longo dia, apesar da chuva, de ser recebida por alguém conhecido na estação. Lá estava o Matheus com carro alugado e um guarda-chuva para me buscar na estação. Tem coisas que são muito valiosas quando se está viajando sozinha. O Matheus tem sido uma delas nesse momento da viagem.
Sozinha tenho que resolver e decidir tudo, toda hora. Aqui o Matheus reservou meu hotel. Alugou esse carro para passearmos. Sabe os lugares aonde vamos beber, comer. É bom poder relaxar por uns dias.
No dia seguinte da minha chegada fomos buscar Khristien, a namorada do Matheus, no aeroporto e partimos para um passeio nos lagos. Várias paradas. Um lugar mais lindo que outro. Começamos com um café da manhã em Sermione. O capuccino e os chamados aqui brioches (que são “croassans”) perfeitos. Repetimos. Com maça, com chocolate, com creme, com marmelada, sem nada. Café e conversa, fui conhecendo a Christien que é uma pessoa adorável.

De lá fomos para Saló, banhada pelo mesmo grande lago da cidade anterior. Nadamos. A água estava uma delícia apesar das montanhas ao fundo estarem ainda com neve. Antes tínhamos passado na “Salumeria” para comprar salame. Brincadeira, pão com presunto cru e um queijo delicioso. Adoro a língua italiana aonde podemos reconhecer facilmente os locais e às vezes soa engraçado para nós da língua “brasileira” algumas palavras, como Salumeria. Então o almoço foi na praia do lago.


Nessa cidade também tomamos o melhor sorvete! (de novo, acho que terão vários melhores sorvetes na Itália) Matheus estava dizendo que nos levaria para tomar o melhor sorvete de Saló. A namorada não sabia se ele falava a verdade ou não. Pois ele está sempre brincando. Quando, antes da primeira lambida, um Italiano aparece do nada e pergunta se aquele era o melhor sorvete da cidade. “Porque tomo mundo diz que é, mas é o mais caro.” E ele só ia pagar se dessem desconto. Ele gostou da conversa com a gente. Pois ficou numa sacanagem só. Queria porque queria saber qual de nós duas era a namorada do Matheus. E ele sacaneando o senhor dizia: as duas. Esse homem ficou doido. Ou era doido mesmo. Ou só Italiano. Ficava falando alto dizendo que o Brasil era o terror do mundo, pois as brasileiras eram o terror do mundo. “Mulheres muito melhores do que as cubanas e italianas!” Conseguimos depois de um bom tempo nos livrar do senhor.

Seguimos para outro lago, Idro, com uma vila antiga, nada turística, linda. Acima uma fortaleza militar do século XV completava a paisagem. De longe pareciam muralhas de um castelo. Todo lugar aonde olhamos na região tem esses castelos ou fortificações militares, com torres, muralhas. Isso junto com montanhas com neve ao fundo faz desse um lugar especialmente interessante para uma brasileira, como eu.
No final desse dia maravilhoso passamos no mercado e Christien foi fazer uma sopa de cenoura com mel que vai ficar na memória. Vou repetir aí quando voltar. Acompanhada de muito queijo italiano, presunto de Parma, pão , vinho e simplesmente isso. Maravilhoso!

As aventuras do final de semana não param por aí. Estou fazendo a ciesta do café da manhã no meu hotel no meio do vinhedos quando recebo a mensagem do Matheus: “Bom dia! Tudo bem se passarmos aí para irmos para montanha? Leve coisas para nadar e caminhar.” Não precisa nem dizem minha resposta. Quando conversava com a Fê em Brasília, sobre encontrar com o Matheus, ela disse, com certeza com ele você vai sempre ter um passeio de caminhada, montanha pra fazer. Fez juz a propaganda.
Só que não era uma montanha qualquer. Fomos atravessamos um lindo vale, vimos cachoeira e chegamos: aos Alpes! Um espetáculo inesquecível. 30 e poucos graus na cidade. Lá em cima muita neve mas com o tempo agradável. Em um momento estávamos com 360 graus de montanhas por todos os lados. Em algumas partes a neve descia e outras escorria como água, formando listras de zebra por toda uma montanha. Fiquei muito feliz de estar lá. Grandioso. E foi a primeira vez que estive nos Alpes!

Essa é uma viagem de primeiras vezes. Muitas inaugurações.

Vista do meu quarto meio aos vinhedos, Martarelo ao lado de Trento. Fiquei lá um dia só mas valeu muito.

Resolvo ficar a semana em Trento. A região é bonita com muitas opções. Posso pegar um trem ou ônibus e visito cidades vizinhas. E Agora estou no albergue em quarto privado, o que faz da viagem bem mais barata. Cidades pequenas não turísticas são bemmmm mais em conta que cidades do circuito.
Além disso o Matheus e Khristien estão por aqui. Então nos encontramos para jantar, as vezes cozinhamos, o que é muito bom, pois comer fora por meses cansa. E em outros momentos como ontem chega um convite deles assim. Estamos no mercado compromando uma comidinhas o que acha de comermos ao ar livre. Adorei o convite. Então fomos para uma pracinha, linda cheia de flores, a dama da noite exalava seu perfume. Chegando lá um grupo profissional estava com a mesa posta com toalha, taças de vinho, os adultos bebendo e as crianças brincando ao redor. Já era eram 9 da noite mas estava escurecendo. Fim do dia.

Nós estendemos a canga, que eu trouxe, e tem mil e uma utilidades nessa viagem. Dica: sempre levem uma canga para onde forem. Serve para deitar nos parques e ler, descansar, tomar sol na praia, no lago, se enxugar, se proteger do frio, fazer pic-nic. Então eles tiram vários itens da sacola e comemos sanduíche de pesto com salmão defumado; melão rosa com presunto cru, cani, frutas, um queijo defumado delicioso. E lá ficamos jogados naquela grama num programa de primavera, raro para os brasileiros. Fico pensando porque não fazemos isso no Brasil. Lembro que quando pequena fazíamos pic nic no zoológico, com minha mãe, tia Con... Temos “primavera” o ano todo por aí e às vezes não desfrutamos como eles aqui. Christien disse que a primavera pra eles é como se “voltassem a vida de novo”. Acaba o inverno as pessoas saem de casa. Todo mundo está na rua.

Eu escolhi a estação certa. Estou batendo perna de cidade em cidade e todo mundo está na rua.F

Fotos do final de semana nas montanhas e nos lagos: