Saturday, May 21, 2011

Mapa do Tesouro


Mapa do tesouro

Pegue um trem até La Spezia. Da estação pegue o ônibus “L” para Lerici até chegar à água. Ao avistar o Castelo vocês verão uma praça cheia de restaurantes. Procure pelo restaurante com cadeiras laranjas. É aí. O Pescatore.

Assim tínhamos as indicações de um amigo das minhas companheiras de viagem. Elas me convidaram e eu fui. O dia começou com praia. Combinamos de encontrar em Monterosso Del Mare. Passamos o dia jogadas na areia (pedregulhos) com direito a massagem deitada na canga de uma chinesa, cerveja, livro, mergulhos deliciosos na água límpida do mar da ligúria. No fim do dia, depois de todas vestidas lindas, as 5 seguem para encontrar esse tal restaurante.
Tudo por uma boa comida. O tesouro promete comida farta, frutos do mar e pasta fresca. Vinho, sobremesa, café tudo incluído. Fomos! Não é que as indicações levaram ao pote de ouro.
Fomos servidas por um Canadense que mora aqui a muitos anos super gentil. A mesa estava cheia de entradas, absolutamente todos os frutos do mar possíveis, feitos de diferentes formas quando esse garçom vê a garrafa de vinho branco da casa vazia e diz: “Se isso acontecer de novo me avisem!” E voltou com 2 garrafas, não sei quantas foram pois elas nunca mais ficaram vazias como ele prometeu. Pedi para repetir uma porção de camarão a milanesa com um molho divino. Mal sabia eu que não daria conta de recado ao final da noite.
Farfalle com caranguejo e camarão... ótimo! As meninas não agüentavam mais, e eu como amo massa, disse deixa comigo! E comi um monte. Achando que o jantar terminava por ali. Quando logo veio o Grand Final: duas travessas enormes, uma todos os frutos do mar a milanesa, e a outra, todos os frutos do mar grelhados. Imagina! A lula maravilhosa, vários tipos de camarão, peixe, etc, etc, etc... comemos!
Finito?! Não.
Sobremesa, café, liquour. Depois de muitas opções ele larga uma garrafa de Amarula na mesa.
Isso tudo de frente para o mar, barcos atracados, castelo medieval à esquerda e a direita o sol se pondo na melhor hora do dia, cor de rosa.
E eu na companhia das minhas primeira amigas de viagem as 4 americanas.
Estão comemorando a graduação, diga-se de passagem, uns 12 nos mais novas que eu.
Elas me adotaram na minha primeira noite. Estava pensando se seria tranqüilo eu fazer a trilha sozinha. Perguntei para um casal de senhores que estava na estação (quando tive que fazer hora porque perdi a parada para Riomaggiore – o trem parou no meio do nada, longe da placa e não sabia que era ali que tinha que descer) se tinha gente fazendo a trilha sozinha. Eles disseram que viram homens andando sozinhos. Não mulheres. A senhora falou: você acha uns amigos, não deve ser difícil pra você. E eu respondo não é tão fácil assim.
Mal sabia eu que uns poucos minutos depois as amigas estariam ali comigo. Elas estavam no mesmo hotel. E a noite enquanto eu tomava um vinho no bar da vila elas passaram, eu disse um Oi e puxamos conversa. Elas logo me convidaram para a trilha das 5 terras no dia seguinte.
Pegamos um trem para a primeira das Terras Monterosso Del Mare e de lá caminhamos subindo e descendo montanhas, penhascos, encontrando entre uma e outra cada uma das 5 Terras. Sempre surpreendentemente lindas.


A trilha quase todo tempo com vista do mar, no meio de plantações de uva. Região vinícola.
Logo no início dessa trilha nós que éramos 5 estamos, sem perceber, já estávamos caminhando com um grupo de 7 meninos, também americanos, recém formados. Como a habilidade para o engajamento social dos americanos, que é de dar inveja, eles conversam aqui e ali e já na terceira vila estamos caminhando juntos. Agora éramos 12. Trilha gastronômica, pizza ao pesto com cerveja italiana na segunda vila, Vernazza. Sorvete de chocolate amargo com frutas da floresta na terceira, Corniglia. Na quarta, Monarola, mergulho no mar e banho de sol nas pedras. E na quinta, nossa casa, várias garrafas de vinho com morango e foccacia ao por do sol nas pedras. Riomaggiore nos recebe depois de um dia inteiro de caminhada. Saímos as 11h e voltamos por volta das 7h da noite. O sol estava se pondo à nossa frente quando quase perdemos o espetáculo quando um dos meninos grita: baleia!



Eu sem acreditar fico olhando... e lá vem ela... subindo e descendo mostrando seu dorso, seu rabo, para completar a magia da terras da Ligúria.

A Trilha do amor
O caminho de Monarola para Riggiomare é a trilha do amor. Os 12 já estavam de papo, falam sem parar. Eles estão na idade que não pensa sobre o amor atuam diretamente sem pensar. E eu fui atrás com as minhas viagens... eles nem viam o que estava ao redor envolvidos com o converse. E eu encantada com o amor espalhado no caminho. As pessoas escrevem nas pedras, nas folhas, deixam mensagem, “Eu te amo” em todas as línguas e cadeados por todos os lados. Aí percebo que a mandinga é deixar um cadeado preso em alguma argola nas pedras, nas grades em qualquer lugar que conseguir prender pelo caminho. Não tenho cadeado na bolsa... ai, ai, ai! Quem me conhece sabe que sou chegada em uma mandinga, ritual, ainda mais para o amor. Vejo a placa “cupido” vários nomes em volta. Tenho uma caneta e coloco meu nome lá bem no meio das letras C U P I D O. Quase na saída vejo que algumas pessoas colocam fitas amarradas e lembro que tenho um saquinho de filo branco com uma fita de cetim aonde esta guardado meu anjo da guarda, dado por minha irmã do coração Paulinha, na véspera da minha viagem. Então tiro a fita e amarro em um grande parafuso incrustado na rocha e deixo ali o desejo de viver mais um amor. Aliás, estamos nessa vida para isso: amar!

Hoje minhas amigas se foram mais deixaram um convite para eu encontrá-las na Croácia daqui a pouco mais de uma semana. Recebo o convite com vontade, mas sem querem precipitar a programação. Croácia já era minha intenção antes de sair do Brasil, mas não sei se quero sair da Itália agora. Não estou querendo sair nem das “cinque terre”. Estendo minha estadia para mais 2 noites, com a intenção de se estender mais.
Estou meio aos cenários que tantas vezes vi em filmes e queria estar. Não quero só ver quero estar, voltar, sem me apressar. E foi o que fiz hoje!
Amanhã deixo um pouco o trem e pego um barco para variar e vou para Portovedere.
Um beijo ao pesto pra vocês!
(20 de maio de 2011, Riomaggiore, Ligúria, Itália)



(Dia 24 de maio de 2011)
Confesso aqui que ontem comprei o cadeado e prendi em um ponto lindo da trilha aonde apaixonados param para tirar fotos. Quiz colocar em outros lugares mas descobri que o meu cadeado não era tão grande, como o de outros... então as pessoas vão prendendo os cadeados uns nos outros. E foi assim que fiz. O meu está lá preso em um, que está preso em outro e em outro... achei uma linda imagem. Um emaranhado de cadeados do amor. Uma força conjunta nessa dádiva de amar.

A trilha do amor liga a cidade que estou a próxima (Entre Riomaggiore e Monarola), são 25 minutos de caminhada, na encosta a beira mar. Lindo! Sempre é uma desculpa passar por lá. A volta de um jantar em Monarola. Indo para praia vou pela trilha e pego o trem na cidade seguinte...

A pedidos mais fotos da região pra vocês:
A trilha das 5 Terre

Sunday, May 15, 2011

Não contive as lágrimas


Não contive as lágrimas

Chegando aqui percebi que aquela emoção na saída de Praga não era melancolia ou solidão era uma emoção boa mais ainda sem nome. Meu coração ficou batendo forte quase 24 horas, desde que entrei na Itália. Um dos momentos mais molhados foi o abraço da Basília São Marco, aonde me senti acolhida e cuidada. Lá fiquei entre lágrimas e orações durante um tempo incontável. Senti-me ligada... sentia os pés, sentia as costas, sentia o alto da cabeça... sabe quando se chega na casa dos pais? Essa sensação de se estar em um lugar aonde tem alguém que olha pela gente?

Já senti isso outras vezes. A mais recente foi numa igreja em Paris, aonde ouvi coisas que acalmaram o meu coração. Palavras desciam com as luzes dos vitrais dizendo, que, era para eu me acalmar que tudo aquilo era providência divina. E eu, fui me acalmando. Naquele dia sentia um calor enorme nas mãos como se cada lado tivesse um apoio.

Mas essa sensação é ainda mais antiga. Lá em São Marco, na bela Veneza, lembrava da paz que sentia quando menina, nos momentos em que passava os recreios na capela da escola. Minha oração era silenciosa. Bastava estar ali envolta naquela sensação de aconchego.


Engraçado é que, um americano, novinho, veio com um conversa atravessada no meio da igreja: "Tudo bem? Você está bem?" Eu digo: Sim. E ele diz: Você parecesse "depressed". Então respondi: Não você está enganado, estou "Impressed". E dei um jeito de deixado, pois tinha umas cantadas de menino. Ele queria me impressionar, fingindo que sabia falar das pinturas (que eram mosaicos) da igreja. Mas eu estava mesmo impressionada com aquele universo de mosaicos dourados nas paredes e tetos, enquanto no chão eles continuavam formando mandalas que seguiam por toda igreja. Uma obra de arte!

O dia que cheguei foi de brinde. Saí bem vestida para jantar comigo mesma. Passei até lápis no olho e aquela echarpe florida de novo, a preferida da estação. E fui muito bem atendida no Bistro Venice. Um Prosseco inaugurou minha chegada. Comi o primeiro prato, pasta com lagostin e o segundo, merece uma descrição a altura: 5 lagostins empanados com amêndoas grudadas na casquinha crocante. Já tem dias que comi isso e ainda hoje enche minha boca de lágrimas (ato falho - água- mas deixo aqui as lágrimas tema do texto!).

Também merecia. Neste dia saí cedo de Praga e peguei:
- taxi para o aeroporto.
- ônibus para chegar ao primeiro avião. Pequeno de hélice. Não tinha finger.
- ônibus para sair do avião em Munique.
- uma hora de atraso em Munique (tempo de escrever os emails de Praga pra vocês).
- ônibus de novo. Só que quando entrei ficamos parados uns 40 minutos. Até dormi.
- No aeroporto de Veneza, temos que arrastar as malas até o transporte público aquático. Talvez mais de 500m.
- Para embarcar e desembarcar você carrega suas malas do braço. E passa por uma prancha, tipo capitão gancho, cuidando para não despencar com tudo.
- Chegando a Veneza mesmo, você sai procurando o seu hotel empurrando sua mala meio a multidão de turistas. E olha que o chão são daquelas lajotas antigas, não desliza fácil.
- Só descobri essas dificuldades lendo o meu guia nos últimos minutos antes de pousar na Itália.
- Mas ainda bem que estava hospedada quase dentro da Praça São Marco então o caminho era só uns 500m. Imaginem como foi para quem reservou o hotel mais pra dentro. Ou estava com malas mais pesadas... Só ficava pensando que iria escrever um guia: “Como chegar a Veneza. Prepare-se” E pensando porque ninguém me contou antes? Porque vocês que já estiveram aqui não me contaram?

Então, o jantar maravilhoso que eu tive, que não precisava de justificativa para ter acontecido, tinha muito incentivo.

As pessoas passam por aqui por 24 horas. Eu reservei 5 noites. Essa é a penúltima e não achei muito. Estou vivendo cada bairro, cada ilha, cada ponte com calma. Hoje passei o dia em Murano, voltei cheia de lindos anéis, pulseiras e colares. Uma perdição!

Assim mais cores agora dos vidros de Murano seguirão comigo pintando minha viagem.
Agora sigo pela Itália...

No Espaço aéreo entre Istambul e Colônia


No Espaço aéreo entre Istambul e Colônia

Muitas experiências me inspiram a escrever pra vocês.

Acabo de Ler um livro 1000 dias na Toscana, um relato de uma vida em um vilarejo repleto de comida, romance e, acima de tudo vida. Como relata a autora Marlena de Blasi.

Iniciei essa viagem deliberadamente aberta aos contados, direto com anjos que abrem portas quando estamos dispostos a nos abrir. Lembrei que há 11 anos, quando fiz minha primeira viagem sozinha "pelo mundo" (naquela época pela Califórnia mais Havaí e Lake Tahoe... e o lindo Isalen Institute) em muitos momentos tive ajudas inesperadas e assim sinto que segui cuidada e protegida.

Então, esse livro me aparece, no aeroporto de Salvador (Parênteses: vocês sabem que antes dos 100 dias tirei uns 8 para fazer o curso 1 que era pré-requisito para o 2 que eu farei na Alemanha). Vem de presente e na orelha diz que o casal do livro organiza excursões gastronômicas pela Toscana e Úmbria, exata região aonde penso em desfrutar a minha estada na Itália. Recebo esse mapa cifrado e vou seguir atrás do tesouro.

Então passo os meus primeiros 10 dias lendo os 1000 dias na Toscana. Vivendo cada dia dos 100 dias, que parecem que enrolam, mas que querem mesmo me levar pra Toscana.

Marlena, a autora, relata uma mudança para uma vida tranqüila aonde consegue ver a abundancia na simplicidade do necessário a cada estação. Andando por Istambul gosto da diversidade de uma megalópole (do tamanho de São Paulo), mas por poucos dias, pois o meu ritmo é outro. Penso na calma da vida que tenho em Brasília e como gosto de viajar por lugarejos. Quero sair de Brasília para estar em espaços ainda mais lentos, calmos e simples.
Lembro da viagem de carro com a Carol por Portugal e Espanha aonde confessamos uma à outra que: "nós somos mesmo provincianas". E nesta volta um grande momento foi parar em uma cidade no meio do nada e saborear uma entrada de lagostim, num lugar que esbarramos sem muito procurar, e repetimos até nos fartar... o prato principal foi esquecido meio a umas três porções cada uma com um molho e uma garrafa de vinho. Barcelona ficou aos pés de Calpe nessas lembranças. Alguém já ouviu falar de Calpe? (he, he, he)

Seguimos porque não quero perder as impressões do agora:
Estou no avião saindo de Istambul indo para Colônia. Divido a fileira de três com um casal de turos. Ele um senhor distinto, branco bem vestido, não dá para dizer que é turco logo de cara. Lembra um pouco o vovô Sérgio pela elegância da simples calça e blusa bem passada de algodão. O cabelo bem cortado e penteado aparecendo a testa que delata alguma idade. Ao meu lado está a sua esposa, curiosa, eu, olho suas mãos, manchadas de vermelho ferrugem, parece que é a Hena, que hoje deve pintar nas mais novas. Pois esses lindos grafismos não vejo nas mãos das mulheres de mais idade só nas jovens... poucas, mas quando encontro fico encantada como se tivesse frente a um monumento tão esperado para ser visto no país visitado. Seu corpo está coberto por uma túnica combinando com a cor do véu, neste caso amarelo com verde, enquanto a cabeça está coberta por uma renda dourada, mini paetês descem da cabeça aos pés. Esta é mais brilhosa e colorida do que as que eu vi pela cidade.

O casal bem simpático tenta falar comigo em turco logo que sento, quando consigo dizer que só em inglês, eles, alheios a essa língua, riem, ignoram e continuam a pronunciar algumas palavras.

Ela espaçosa não só em volume, mas nos braços que deixa sem muito pudor atravessar sua cadeira e invadir o espaço da minha. Acomodo-me com meu corpo, metade do seu, para o lado, assim ela pode se espalhar. Quando chega a comida continua a intimidade, olha para minha bandeja perguntando algo como se está bom. Digo com a mão que sim. Daqui ha alguns minutos ela aponta para o doce que não comi e sinto que ela quer. Ofereço e de pronto pega feliz presenteando o marido.

A "espalhação" começou no embarque. O vôo mudou de portão três vezes, então fiquei andando para cá e para lá. E olha que o de Istambul não é tão pequeno assim. Tem poucas cadeiras frente ao embarque aonde as turcas, confortavelmente, tiram seus sapatos e deitam-se em três bancos espalhando seus corpos e panos em excesso pelos assentos de espera.

Até que no último portão que parece o certo, sento ao lado um senhora branca com um que prece ser seu neto. Já tinha me espantado com tantos turcos indo para uma cidadezinha na Alemanha, que só conheci quando resolvi fazer o curso. No embarque só véus e túnicas. Não descobri porque muitos véus eram brancos, mais do que de costume pela cidade. Fiquei pensando se não eram viúvas ou... queria um intérprete para poder mergulhar mais no significado dos símbolos dessa cultura.

Começo a conversar com a senhora ao lado, alemã, mora perto de Colônia. Ela diz que a eles nessa cidade são muito abertos a outras culturas. Tem muitos imigrantes turcos que se mudam pra lá para trabalhar. Que provavelmente essas pessoas eram parentes de gerações que já vivem na cidade há algum tempo. Diz que ontem inauguraram a primeira mesquita da cidade. E que eles, nessa parte da Alemanha, sempre foram abertos a diversidades, sempre conviveram com judeus e que hoje convivem com pessoas negras em harmonia. Uma minoria ainda protesta, como na inauguração da mesquita, mas não fazem muito volume.

Gosto da troca e me sinto situada naquele universo. Penso que estou saindo desse país meio oriental meio ocidental, mas parece que estou indo para uma Alemanha meio ocidental meio oriental. Essa experiência talvez já tenha sido anunciada antes: uma brasileira que saí no Brasil para fazer um curso com um indiano na Alemanha. Uma boa mistura, não acham? Vamos ver no que vai dar.

Parece que começa o embarque, mas não tem fila, só um amontoado de pessoas falando alto como se estivessem entrando em um show. Fico de fora. Até que um homem, na língua local, ordena que eu e alguns poucos que aguardam fora da confusão entrem na fila - que não existe.

Estou com o assento marcado logo na frente então é melhor entrar por último. Ilusão. Assentos marcados não funcionam. Quando olho para minha cadeira uma mulher diz em turco e com as mãos que eu siga para procurar um assento pra trás. Confirmo com a aeromoça que diz que eu posso sentar em qualquer lugar. Acho que fazem o que querem como em um pão de arara.

Foi então que sentei ao lado daquele casal.
A história com eles se estendeu, pois ela que já tinha me filmado no início do vôo, agora pede para o marido tirar uma foto dela ao meu lado, como se fosse amiga íntima coloca o rosto pertinho do meu. Eles seguem com a aproximação ela olha pra minha mão mostra o seu anel solitário, e pergunta se sou casada, digo que sou separada. Ela explica para o marido que me diz que eu tenho que ir para o segundo casamento. Como ousou entrar na minha intimidade pergunto sobre as manchas nas mãos se é hena. Ela diz que sim, eu digo como gostaria que ela desenhasse nas minhas. Digo, eles dizem, em gestos é claro. Ainda não aprendi falar turco!

Olhar e sentir as pessoas é o que me encanta em estar mundo afora. Sinto o olhar dos turcos e das turcas: forte, direto e profundo. Os homens olham sem disfarçar mas as mulheres também. Às vezes sinto-me paquera por elas. Talvez porque também faço isso quando fico vidrada no colorido dos lenços e como são amarrados na cabeça escondendo o pescoço. Elas me olham diretamente nos olhos e riem. Olha o que aconteceu na Capadócia umas meninas de uma excursão escolar me param e mostram a câmera. Quando vou pegar, achando que é para eu tirar uma foto pra elas, me surpreendo: elas querem uma foto comigo. Então fico lá parada frente à cidade escondida nas montanhas cor de areia, com meu chapéu de palha e lenço de renda no pescoço. Uma a uma as meninas posam ao meu lado enquanto a amiga fotografa. Antes que me sentisse a celebridade os meus companheiros do tour gritam do outro lado olha a Gisele B.!

Voltando para o aeroporto a confusão continua logo vejo dois velhos brigando por um carrinho de malas. Um puxa de um lado outro do outro. As pessoas ao lado tomam partido e é uma barulheira só. Fico pensando que eles chegaram na Alemanha e ainda sentem-se em casa.

A mala demora tanto que me dá tempo de puxar mais uma conversa. Se Marcelo estivesse comigo diria: olha a colegagem! Fico curiosa com para saber o que são vários galões de água que eles estão trazendo para Alemanhã. Uma jovem de sobretudo e véu está a meu lado e começo a entrevista com muito cuidado. Ela diz que fala pouco inglês mas se esforça para me explicar que a água é muito especial para eles muçulmanos, que eles estão trazendo de Meca (e não de Istambul como pensei). Logo chegam vários galões de uns 5 litros que sua mãe traz. Com isso ela satisfaz ainda minha curiosidade trazendo a informação de que eles são 5 pessoas e que estão trazendo um galão para cada um. Não satisfeita quero saber o que fazem com a água se passam no corpo ou bebem. Eles bebem. Agradeço a querida turca introspectiva com olhar distante, que hoje mora na Alemanha, que tem a avó ainda na Turquia e que vai a Meca buscar a água sagrada.

Pego o taxi, um carro chique com um homem muito educado, que conversa comigo pelo caminho. E que descubro que é turco quando, falando de segurança na cidade, eu comento que em Istambul não era muito seguro para mulheres andarem sozinhas. Ele retruca e diz que isso era a muito tempo atrás, que hoje não era mais assim. E diz eu sou turco. Percebo que não adianta dizer que o que senti foi diferente. Acho que tem coisas que os homens são incapazes de perceber porque não são mulheres.

Enfim, fiquei agradecida por ter ido acompanhada. Na minha fantasia desfrutava uma viagem "sozinha" com um guarda-costas. E que foi melhor assim.

Deixo um beijo e vou me instalar no Instituto do Osho que é o lugar do curso.



Experiência somática...

Cheguei Instituto. Reservei um quarto sozinha. O curso inclúi dormida comunitária. Fico feliz por ter feito pois parece que eles ficam acampados em uma sala de aula dormindo no chão. Preciso de privacidade e espaço. Não foi por isso que saí para o mundo?... PARA PAUSAR. Abrir espaço e de certa forma ficar mais comigo e descansar. Acho que não consigo fazer isso em um dormitório cheio de homens e mulheres espalhados pelo chão. Imaginem a noite: roncos, cheiros diversos... Não! Estou aqui, sentada de frente para uma janela enorme em um quarto de dois só pra mim, escrevendo pra vocês e descansando do primeiro dia do curso. Sem contar que na hora do almoço vim dar uma dormidinha de uma hora. É um flat com três quartos, um banheiro e uma cozinha compartilhada. Outras mulheres super reservadas ocupam os outros quartos. No início me incomodei coma distância delas. Mas agora acho bom colegas de apartamento são melhores reservadas que invasivas. E eu deixo a interação para hora do curso. E quando venho pra cá posso me resguardar.
Estou aqui desde ontem e me sinto em casa. Penso que se eu tiver espaços assim para o resto da minha viagem vai ser bom demais. Um quarto simples mais confortável e bem iluminado.

A sensação de estar em casa, acho, que vem também de encontrar aqui coisa que fazem parte da minha vida e me fazem bem. Ontem cheguei e logo fiquei sabendo que tinha um parque muito perto. Perto mesmo no final da rua. Um lindo dia de primavera, nada frio, me convida para uma volta. Saio toda equipada de tênis, roupa de ginástica e vou caminhar no parque. Me divirto olhando um monte de gente jogada pela grama, a maioria em grupo, poucos sozinhos, lendo, fazendo churrasco com mini churrasqueiras, passeando com cachorros e com as crianças. Uma linda adolescentezinha está sentada em um banco com o sol batendo no seu rosto, toda arrumadinha, pernas e joelhos bem juntinhos, concentrada em seu livro, nem levanta os olhos quando eu passo. E eu, por outro lado, a fotografo com meus olhos observando todos os detalhes da sua miúda presença.

Volto logo porque tem uma aula de yoga as 18h. Uma delícia, com uma professora gentil até na voz. Volto a trazer para o meu corpo movimento. Desde a cirurgia que me deixou em repouso por um mês sem esforço ainda não tinha feito um exercício. Agora estou aqui um dia depois desfrutando aquela dor gostosa, nas partes menos esperadas que a yoga trás. Dor gostosa do corpo que foi desperto, em torções, alongamentos e posições invertidas.

Gosto de estar aqui com uma rotina de curso e práticas. Também foi bom atendendo hoje a tarde, sinto-me "grounded" - trabalhando. Estar no papel de psicóloga e fazer uma boa sessão me dá uma boa sensação de força, centramento e conexão. No curso trocamos os papéis sendo paciente ou terapeutas para aprendermos a técnica. Com isso vem o pensamento e divido com meu "colegas de curso": que vai ser uma boa experiência eu estar esses 100 dias longe do consultório. Às vezes sinto-me uma formiga para quem a vida está organizada em função do trabalho. E penso que será bom descobrir o que mais pode me trazer as mesmas sessões - tão importantes pra mim.

Estar fazendo um curso em uma cidade desconhecida tem suas vantagens, contato com pessoas do local. Na minha colegagem matinal fiquei sabendo que tem música no parque logo mais, então tenho que me empacotar porque a primavera está quente durante o dia mas a noite pra mim ainda é de inverno.

Beijos no coração. Lydia








Saturday, May 14, 2011

A Tailândia está em Praga


A Tailândia está em Praga

O meu hotel é estilo oriental e logo na chegada fico sabendo que tem um SPA. Com massagem Thai. Pensa o sorriso na minha cara. No dia da chegada saí dei uma volta e pensando que estava indo para um determinado lugar acabei dando de cara com o meu hotel. Fiquei decepcionada me achando perdida no primeiro momento. Mas depois achei que era uma oportunidade para descansar. Era o dia da chegada, já tinha andado um pouco, comido, tomado cervejas... então voltei para o Hotel. Dormi. E quando acordei o último horário da "Original Thai Massage" estava lá pra mim.
Liu era o seu nome. Uma pequena jovem dos seus 20 e poucos anos me esperava com uma roupinha bonitinha tipo um "sarueu". E eu coloquei também uma roupinha para receber a massagem – de roupa. E recebi dela a melhor massagem da minha vida. Alguém já fez massagem thailandesa? Eu nunca tinha feito. A pequena enfiava seus ossinhos, das mãos, dos cotovelos, dos joelhos por todo o meu corpo. E eu gemia e gritava. Ela ria! As vezes pedia desculpas. Uma massagem bem forte e profunda. Não sei de onde tira tanta força. Mas percebi que tem todo um jogo do peso do seu próprio corpo para pressionar. Ela sobe na maca e enfia os dedos entre os meus ossos. Impressionante. Um momento masoquista. Aonde gosto da dor porque ela anuncia um afrouxamento dos meus músculos enrijecidos. E com o corpo todo meio dolorido, ela começa um super alongamento usando o corpo dela para esticar o meu. Sua perna prende uma das minhas enquanto seus braços empurram a outra. Uma loucura. Se gravado seria uma linda apresentação de "Contato e Improvisação". E para acabar, eu sento e ela, por trás, faz um movimento circular com meu troco que estala cada vértebra, uma a uma, de baixo para cima. Qualquer quiroprata ficaria no chinelo. Sei agora que o talento era de Liu e não da técnica tailandesa. Porque repeti em uma versão reduzida com outra massagista dias depois, mas não foi a mesma coisa. Liu só trabalha finais de semana e pequei o último horário. Sorte minha!

Pensei que essa coisa Thai fosse uma particularidade do meu hotel, mas não. As tailandesas estão por toda a Praga. Lojas e lojas oferecendo massagem Thai. Uma me tirou gargalhadas. Caminhando pela rua mais movimentada da cidade vejo umas perninhas dentro de grandes aquários. E peixinhos, centenas, beliscam as canelas nas pessoas sentadas na vitrine. Devem achar relaxante, mas quem já foi a Chapada dos Veadeiros sabe esse negócio de peixinhos peliscando é meio incômodo. Não pagaria umas coroas Tchecas pra isso.

Fico com minha experiência Tailandesa com a Liu!

A efervescente Praga


A efervescente Praga

Sigo para a República Tcheca e me emociono por adentrar o leste Europeu. Esses marcos territoriais são demais. Antes em território turco coloquei meu pé pela primeira vez na Asia (menor como é chamado) e agora rompo os limites europeus conhecidos e avanço um pouco mais em direção ao oriente. Percebo também o sol de acordo com o lugar que estou, além do fuso, é uma atração a parte. Em colônia diferente da Turquia nove e meia da noite ainda tinha luz no céu. Aqui em Praga um pouco menos, mas também segue com luz pra lá das 8.

O gulash e as salsichas, agora no pão, continuam me acompanhando na viagem regados agora por cervejas tchecas maravilhosas. Os dias estão quentes e são um convite para esse deguste. Praga brilha nas cores da arquitetura art-nouveau e no sol de céu azul absoluto, nenhuma nuvem. Então meu chapéu não sai da cabeça. Essa cirurgia acrescentou um charme nessa pessoa que anda pelo mundo sombreada. Sem poder tomar sol no rosto por uns meses e sem poder colocar óculos nesse nariz que ainda se recupera da nova moldagem o chapéu é obrigatório. Vocês verão nas fotos. Já rendeu elogios.
Excita-me chegar a uma cidade fervilhando cultura nos festivais de primavera. Na primeira caminhada no domingo caio no meio da maratona de Praga. Concertos, teatros e danças são panfletados por todos os cantos. Ontem segunda já às 11 da manhã tinha um palco armado, aonde foi a maratona, anunciando que teria alguma bagunça ali ao longo do dia. Sem saber muito bem andar por esse mapa caí nessa praça mais tarde e acabei vendo um pouco do show de uma banda adolescente que cantava com sol a pino.
Isso depois de ter passado do dia no Castelo de Praga, um complexo de vários palácios, basílicas e a maior Catedral da República Tcheca. Impressionante. Na saída, percebi que tinha subido muito para chegar ao castelo quando sou surpreendida com uma linda vista de toda a cidade, com suas inúmeras pontes. Não consigo descer frente a tanta beleza então entro em uma espécie de parque, meio a uma amostra de plantação de uva, com alguns lugares para tomar cerveja e vinho, mas o que eu faço é me jogar na grama e descansar. Fico ali por um bom tempo tiro fotos, começo a ler um novo livro, recebo uma ligação do vovô e vovó Elisa e a cidade continua ali como numa tela de cinema mudo.

À noite fui assistir ao teatro de marionetes Don Giovanni em italiano no original. Uma sala antiga e bem pequena com aquelas cortinas bordos super tradicionais que são suspendidas de baixo pra cima e não para lateral como hoje são as modernas. Isso tem um porque, assim eles ajustam o quanto querem que a gente veja os profissionais que movimentam os bonecos. Marionetes de meio metro se movimentam pelo palco tiram risadas do público e alguns bocejos, pois o espetáculo dura duas horas.

As marionetes estão por toda parte na cidade umas mais elaboradas que as outras. As vitrines são verdadeiras exposições dessa arte manufaturada. Encanto-me com as bruxas, encontrei até uma seria, gostaria de levar várias, mas como a mala já veio pesada e vai seguir comigo vários meses resolvo levar apenas as fotos.

O dia de ontem acabou com uma passadinha na praça para ver o final do show que durou todo o dia e noite. Com direito a ouvir um "obrigada" de uma guitarrista brasileira que estava no palco. E pão com salsichas brancas com aquelas ervinhas no meio, mostarda e a Pilsen-Urguell. Quase 12 horas no ar em Praga.

Por isso descanso na cama hoje de manhã escrevendo pra vocês antes de sair, pois um programa leva ao outro e não sei que horas volto. O plano é almoçar em um lindo restaurante abaixo da ponte Charles. Que me emocionou ontem na travessia. Conto mais tarde. Quem sabe um concerto ou...

Agora no vôo de Praga para Venice (com conexão em Munique) continuo o relato da linda cidade.

Ainda bem que saí um pouco mais tarde do hotel neste último dia em que escrevi para vocês pois só voltei 23:30. Abri o dia com uma exposição de Salvador Dali. Magnífica com peças que não tinha visto em outro lugar. Principalmente suas pinturas em cerâmica e tecido. Fui almoçar naquele lugar que lhes falei Kampa Park, estava indicado no guia Wallpaper. Passando a ponte Charles que a ponta mais badalada de Praga, tem tocadores e cantores por toda parte, uma feirinha de artesanato, com coisinhas linda. É meio mística se tocar no cachorro dizem que você volta a Praga e se tocar no Santo John Nepuco dá sorte. Adivinhem se coloquei minha mão lá? Nas dicas que eu recebi de uma cliente falava assim "vá andando para o castelo, o caminho é lindo, passe pela ponte Charles, compre um brinco, um colar..." E assim fiz, quando passei pela ponta a primeira vez, comprei um colar de borboleta e passei todo o dia acompanhada por ela. O almoço foi uma delícia, mas uma comidinha bem pequeninha. À francesa, mais Frances do que as porções que achei na França que eram generosas. Mas delicioso, salmão, com aspargos e um suflê de couve flor. Chops deliciosos fizeram o tempo passar devagar, o plano era almoçar. E uma sobremesa de arrasar, chocolate, framboesa e espuma de café.
O dia estava lindo então resolvi continuar "outdoors". Tirei minha canga providencial da bolsa e me estendi na grama debaixo de uma árvore em um parque. Cheio. Cachorros crianças, gente lendo, bebendo, tomando sorvete, papeando, namorando. Até um casal super ousado achei, deitado um em cima do outro. Ela embaixo com as pernas abertas. Ele grande gordo deitado em cima dela. Achei meio erótico grotesco. Mas eles estavam super a vontade e não chamavam a atenção das pessoas em volta.

Depois acabei achando um teleférico que dá no alto de um parque aonde eu subi em uma torre, cópia da Torre Eifel, menor é claro e tive uma vista 360 de Praga. Essa realmente foi uma das vistas, senão a mais bonita que tive de uma cidade. No pé da torre um chop Pilsen Urguell de novo com salsicha feita na hora no pão preto bem gostoso. Resolvi descer andando o parque quer é uma montanha enorme.
Já exausta mas pensando, desde cedo, que podia achar a indicação de um Jazz que tinha recebido. Passa pela minha cabeça que o universo poderia colaborar para que eu achasse o lugar. Na volta pra o hotel resolvo mudar o caminho, agora mais "safa" no mapa da cidade e dou de cara com o próprio "Reduta Jazz Club". E como se não bastasse com o café que minha cliente, que morou em Praga, indicara como o melhor café. Um do lado do outro. Então subo no café, de 1900, escondido no segundo andar de um prédio antigo. A indicação era tomar o chocolate quente melhor do mundo. Pra mim uma calda de chocolate. E pedi uma inesquecível "apffel studell". Que voltei para repetir no dia seguinte. Como o café parecia realmente bom de cozinha e ambiente no dia seguinte voltei para almoçar lendo livro no terraço deles. Lá fiquei horas nesse meu último dia.
E foi ao Jazz. E no dia seguinte ao "The Black Theater", o show Africans maravilhoso. Eles brincam com o escuro e o neon com cores fosforescentes e o branco preto. Dança contemporânea com movimentos dos animais mais imagens projetadas. Lindíssimo! Não era a Broadway mas poderia ser. Em uma casa pequena na rua chique de Praga Pariska (Paris).
Assim deixei Praga cheia de experiências e sensações dentro de mim.
Na manhã da minha partida estava até meio emocionada, meio melancólica. Achei que pudesse ser pela emoção de quem enfim estaria indo para Itália e entrando por Veneza. Mas talvez seja a despedida de Praga. Não sei! Uma emoçãozinha querendo sair do peito. Ou talvez tenha a ver com esses dias que passei acompanhada comigo mesma. Os primeiros dias realmente só. Uma solidão calma no mundo.

Morando uma semana em uma rua


Morando uma semana em uma rua

Minha estada da Alemanha foi rodeada de Budas. O curso foi no Osho Institute. Na rua do Instituto também ficava o prédio aonde eu me hospedei. Uma cidade inteira cabia nessa rua: restaurantes vários mais italianos do que qualquer outra coisa, pubs, mercado, padaria e um parque. Quer mais? Não precisei sair dali pra nada, passei vários dias morando naquela rua até que me aventurasse a romper o quarteirão. Era gostoso estar ali. Como éramos uns 40 no curso era comum encontrar as pessoas fora do horário do curso naquela rua. Um Hi Lydia aqui, "God Morgan" alí e parecia que eu era uma moradora antiga do bairro. Um dia fui tomar café em um lugar diferente para ver outra clientela, e encontrei um colega sul africano do curso, que me convidou para sentar na mesa dele. E ainda pagou a conta. Gentil.
Aliás, eu, ele (Rosada) e Karen também da Africa do Sul nos unimos como os "de fora" – os English Speakings. Logo no primeiro dia conheci Karen na aula de Yoga ela ficou encantada por eu ser do Brasil. Sei filho da minha idade tinha voltado de uma viagem ao Brasil encantado. Com as mulheres brasileiras, diga-se de passagem.

No dia seguinte de manhã no café Karen me apresentou Rosada. Como eles fizerem todo o curso em Cologne e tem amigos antigos do Osho que moram na cidade sabiam vários lugares gostosos para estar. Com isso ganhei: um convite para um show no café do parque, uma caminhada enorme pelos parques da cidade, que se interligam formando uma cidade verde a parte, um almoço com direito a vinho para um brinde. Foi gostoso demais ter essas pessoas por perto.

Com eles consegui comer salsichas alemãs, no último dia. Eu, porque eles são vegetarianos. Como diz Rosada "comida alemã hoje é aspargos, batata e peixe". Completo: quando tem peixe. Esse restaurante do almoço ficava em uma praça linda cheia de árvores centenárias que voltei à noite. Era sábado. Estava lotada de gente de todas as idades, sentados nas mesas dos bares, pelo chão... um estacionamento de bicicletas ao lado. Eu gostaria de ter tido tempo para ficar dando voltas de bicicletas pela cidade. Mas curti ver as pessoas de bicicleta indo para o trabalho, fazendo compras, saindo à noite como neste dia. Uma mulher chega de vestido florido vermelho até o joelho, salto alto e desce de sua bicicleta para jantar com o namorado que também vem atrás montado na sua. Sempre acho estranho andar de bicicleta de salto, mas elas seguem super confortáveis com saltos, saias e pedais.

Nesse dia fico feliz de ter encontrado um lugar assim para sair no sábado, mas estar sozinha requer uma presteza em encontrar um lugar confortável para sentar. Na praça os lugares mais gostosos estão lotados e as mesas não são para uma. Além disso, tem velas para todos os lados o que torna o ambiente muito romântico para uma mulher sozinha. Vou até o bar de tapas que seria o ideal, balcão, mesa só de apoio para o braço, lugar aonde uma sozinha não chamaria demais atenção, se misturaria fácil ao ambiente espanhol confuso. Mas não tem espaço. Então me acomodo no restaurante da frente, dentro, mas grudada em uma janela enorme para apreciar o movimento da praça. Acho uma mesa pequena alta com bancos. Essas são sempre boas para sentar sozinha, não sobra muito lugar ao lado e normalmente tem avulsos nelas.

Bem fico confortável, os garçons e garçonetes são jovens e simpáticos, quando peço para me ajudarem com o menu dizem que vão trazer o em inglês mas digo que não precisa, pois sei um vasto vocabulário alemão, "gulash" e aquela massinha que acompanha que identifico no cardápio mas não lembro a escrita para colocar aqui. Então me delicio com minha segunda refeição alemã na Alemanha. Acompanhada de um vinho rose espanhol de entrada e um italiano tinto para o prato.

Fico encantada comigo mesmo e minhas cores, o vinho rose orna com o anel coral e com minha echarpe florida em tons de vermelho que comprei no bazar na Turquia. Estou com uma coleção delas. Cada dia uma nova. E comprei as mais coloridas e leves pois o frio está indo embora e as cores da primavera e verão irão me acompanhar pelos meses que seguem a minha viagem. Qualquer roupa que se repete não é a mesma quando troco esses lindo adorno de pescoço, que tem hora que vai ao ombro, na cintura e até no chapéu.


Monday, May 2, 2011

Entre Banhos e Balões

Tenho que contar essa história começando pelas espumas...

Já na saída de Brasília uma repórter do Correio Brasiliense descreve sua experiência nos Banhos turcos da cidade. Entre seus comentários sempre um “se você gostar ou não terá uma boa história pra contar”.
Acho que ela se referia ao pudor ou falta dele.

Lia essa matéria no dia da viagem, na sauna do Iate enquanto fazia uma drenagem para me preparar para a jornada... (de banhos...)... sincronicidade?!? Vocês não viram nada.

À tarde já vejo um balão sobre a Esplanada. Quando estou na porta do avião olho por aquela janelinha e vejo uns 7 balões acima da paisagem que me despeço. O céu de um laranja incandescente anuncia o que seria o 1º. de 100 dias no velho mundo!

Candangos vocês tem que concordar comigo: é incomum balões sobre nossa capital, não é?! E bem no mesmo dia que saio rumo aos balões da Capadócia isso parece uma linda despedida e anúncio.

Chego na Grande cidade de Istambul... mas essa parte vou contar-lhes fora da ordem pois os Banhos Turcos marcam a experiência de se estar banhada nessa cultura. Chego dia 21 de abril. Dia 23 foi o dia em que minha mãe me colocou no mundo. 34 anos depois eu me coloco no velho mundo.

Sentindo o ar frio e o calor do sol, brindo, com um espumante turco, na cobertura que me permite a exuberante vista do Bósforo, com as mesquitas no alto do morro à direita... a vida que entra de cara NOVA.
Também com o nariz novo! Obrigada mamãe pelo presente de aniversário.

Aliás, vou aproveitar e falar de nariz (segurem aí que já volto ao banho... suspense...).
Fiz essa cirurgia para me curar de “uma falta de espaço interna” e acabo ganhando de brinde um nariz novo.
Sempre achei meu nariz grande, com esse osso mais pronunciado do que gostaria. Com o tempo acostumei. E me achava bonita com ele. Mas era um nariz que chamava atenção!  Aí no Brasil não é minha gente. Porque se tivesse vindo com aquele nariz pra cá me sentiria prima das Turcas...
Todo mundo tem um nariz igual aquele meu!

De qualque forma a guia da Capadócia me disse que (mesmo com nariz novo) pareço com uma prima dela (Turca) que ela ama muito. Gosto de parecer com o povo daqui.

Na França pareço com as Francesas, na Turquia lembro uma turca... assim sigo me mimetizando com os povos do mundo.

Também me vi nos quadris delas que sacodem, nos adornos e no gritinho com a língua entre os dente que elas fazem quando dançam...

E sigo essa viagem obcecada por narizes. Acredito que quem já fez plástica sabe como é. Deve ser como quando fica grávida aí só vê grávidas por todos os lados ou compra um carro novo e parece que toda a cidade tem igual. Só uma brincadeira estética... mais uma. Meio a tantas formas... que distinguem ou aproximam os povos.

Depois do brinde na hora que Nasci 10:50 sigo para o bairro antigo aonde seria recebida por matronas para um tratamento completo. 


1483 é o ano do Hamami em Istambul.


O pacote chama-se “Pacha” – com direito a tudo.
Em uma casa de banhos mais velha que nosso Brasilzão. Entro e sou recebida por Turcas velhas e gordas que não falam nenhuma língua que eu conheça. Então só falam com gestos e me conduzem pela cintura. Depois de deixar minha roupa na cabine não preciso fazer mais nada, elas fazem tudo. Estou entregue.

Preparada pela jornalista do Correio, que disse que as mulheres entram nuas só poucas gringas iam de calcinha, lá estou eu nuazinha. Elas dão um tecido vermelho e branco para nos enrolar, mas só por uns segundos. Ao entrar na sala de mármore ela tira e me deixa como vim ao mundo – nada mais apropriado para o dia do meu nascimento.

No meio uma pedra quente, me deito. No teto, aquela abobada toda furada, com um vidro de cada cor, por onde passa a luz. Um feixe amarelo pega na minha mão esquerda sinto-me em uma câmera de energização. Nua e iluminada, ali estou, confortável. Estranhamente confortável, confesso que costumada ter mais pudores... talvez já sejam as mudanças do próximo ciclo de madurez, ou “despudorez”. As matronas, antes vestidas com túnicas, quando entram na sala de banho, estão com uma calcinha e uma pequena faixa de tecido que mal cobre os fartos seios. Uma delas irá cuidar de mim até o final do processo.

Ao redor várias pias com cuias de bronze. Daí tiram água e jogam no meu corpo, ainda deitado sobre o mármore iluminado. Meu corpo magrinho, depois dos 6 quilos que perdi desde o início do ano, parece bem menor nas mãos daquela mãe do mundo (sinto-me nas mãos de um figura antiga da fertilidade – aqui chamada Ana Tanriça a deusa mãe). E ela me cuida: com uma bucha na mão me escova, de Frente, de Costas, Sentada (F/C/S) ... e me enxágua.... agora vem a espuma... um saco de pano cheio de água com sabão elas enchem de ar e espremem em cima de mim. Meu corpo agora sobre a pedra está repleto de espuma e ela me lava... (F/C/S)... aí me conduz pelo braço para uma das pias, me sento... ela senta em um banquinho atrás de mim e me enxágua... e agora vocês não vão acreditar: lava o meu cabelo! E trança eles entre os dedos grossos, mas gentis como a de uma boa babá.

Nessa hora estava eu sendo cuidada e quatro amigas tinham chagado a pouco (todas de calcinhas e seios de fora! Há, a única, pelo menos naquele dia, liberta era eu mesma...). As meninas faladeiras (como eu com vocês amigas que me lêem agora. Senti falta de vocês lá) me olham e fazem um ok apreciando o ritual que seria delas em seguida.

A cuidadora, de quando em vez olha pra mim sorrindo e diz peruntando: Good?!?
Respondo um sim sem palavras com aquela cara de prazer e plenitude.
E quando tento dizer que era um ótimo presente de aniversário, desisto, pois ela de inglês só sabe falar: good? ou  Turn! (quando tenho que me virar na pedra).

Depois de limpinha por todos os lados ela me leva para uma salinha em cima (parece um quartinho de puteiro antigo (imagino pois nunca estive em um). Deito na caminha então sou untada com óleo (F/C/S). Massagem completa alá matrona, sem muita técnica, apenas uma mãozonha que me esfrega as partes sem pressa.
Acabou! Quero voltar para aquela sala das pedras para me lavar do óleo. Mas ela não deixa. Diz “good!” e mostra que tenho que tirar o óleo apenas com a toalha. Obedeço.

Ao final me beija e abraça.

Essa foi minha festa dos 34 anos de aniversário! Ritual de preparação para a jornada da Heroína (como diz minha mãe em uma ligação no exato momento em que saio do banho)...

Passo o dia batendo perna e comendo e bebendo neste bairro antigo recebendo as lindas palavras dos queridos e queridas que me enviam mensagens e ligações de parabéns lembrando que eu tenho casa. E um lugar querido para voltar.

Istambul é para ser experimentada nos detalhes, nos adornos das mulheres, na grafismo dos monumentos, nas cores das ruas, nas especiarias das carnes... só os vinhos não merecem muita atenção pois não tem detalhes para se apreciar. Esses vão ficar para a entrada na Itália! Que me esperem... os brindes aos montes!

Hoje estou voltando da Capadócia, dia 28 de abril, aonde os balões voltaram a aparecer na minha viagem (depois de Brasília He He He)... que experiência! Não foi a primeira mas essa foi linda e calma.
Acho que a baixa altitude ajudou, além da paisagem das chaminés de fadas da Capadócia com os mais de 50 balões adornando o céu com suas cores e movimentos. O som forte da chama que enche os balões quebra o silencio obsoluto que reina no alto do deserto.

Esse foi o fechamento de uma curta mas intensa visita a essa região intrigante que é o interior da Turquia oriental. Carol, querida irmã, lembrei da você a cada curva do relevo dessa região calcária moldada pelas mãos dos ventos, das chuvas e das neves. Aqui se vê a arte do maior dos artistas o tempo!
E o homem (cristão) se aproveitou dessas montanhas de pedras facilmente cavadas para construir abrigos e cidades inteiras subterrâneas para se protegerem.

Essa mensagem foi escrita no ônibus para Ancara, a capital. Depois da visita a um museu nada para fazer, fiquei deitada no hotel, com internet free. Uma delícia falar com vocês, por email, e por sorte alguns no msn.

Também preciso de descanso açodei hoje as 4:30 para o passeio de balão tendo dormido meia noite depois de um show de danças típicas, lindo! E é por isso que as demais sensações dessa viagem ficam  para outra brecha ou outro trecho de ônibus, trem ou avião.

Fico bem aqui...
Com carinho, Ly